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SIGEP

Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil - 069

A Jazida Pleistocênica da Toca da Janela da Barra do Antonião,
São Raimundo Nonato, Piauí

Data:27/10/1999

Claude Guerin * 
guerin@cismsun.univ-lyon.fr
Martine Faure ** 
martine.faure@lyon.mom.fr
 Paulo R. Simões *** 
fumdham@zaz.com.br 
Marguerite Hugueney * 
m-hugue@cismsun.univ-lyon.fr
Cécile Mourer-Chauvire * 
mourer@cismsun.univ-lyon.fr

*Centro de paleontologia estratigráfica e paleo-ecológica associado ao CNRS (UMR 5565), UFR das Ciências da Terra, Universidade, Claude Bernard - Lyon I, 27-43 Boulevard du 11 Novembre, 69622 Villeurbanne Cédex, França, e Fundação Museu do Homem Americano, São Raimundo Nonato, Piauí, Brasil.
** UMR 5565 e Universidade Lumière-Lyon 2, 7 rue Raulin, 69007 Lyon, França, e Fundação Museu do Homem Americano, São Raimundo Nonato, Piauí, Brasil.
** UMR 5565 Lumière-Lyon University 2, 7 rue Raulin, 69007 Lyon, France and Fundação Museu do Homem Americano, São Raimundo Nonato, Piauí, Brazil.
*** Fundação Museu do Homem Americano, São Raimundo Nonato, Piauí, Brasil. Rua Abdias Neves, 551 64770-000 São Raimundo Nonato - PI

© Guerin,C.; Faure,M.; Simões,P.R.; Hugueney,M.; Mourer-Chauvire,C. 1999. A Jazida Pleistocênica da Toca da Janela da Barra do Antonião (São Raimundo Nonato, Piauí). In: Schobbenhaus,C.; Campos,D.A.; Queiroz,E.T.; Winge,M.; Berbert-Born,M. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Publicado na Internet em 27/10/1999 no endereço http://www.unb.br/ig/sigep/sitio069/sitio069.htm [Atualmente https://sigep.eco.br/sitio069/sitio069.htm ]

Versão Final Impressa:
©  Guerin,C.; Faure,M.; Simões,P.R.; Hugueney,M.; Mourer-Chauvire,C. 2002. Toca da Janela da Barra do Antonião, São Raimundo Nonato, PI - Rica fauna pleistocênica e registro da Pré-história brasileira. In: Schobbenhaus,C.; Campos,D.A. ; Queiroz,E.T.; Winge,M.; Berbert-Born,M.L.C. (Edits.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. 1. ed. Brasilia: DNPM/CPRM - Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos (SIGEP), 2002. v. 01: 131-137.

[VER CAPÍTULO IMPRESSO]

(A referência bibliográfica de autoria acima é requerida para qualquer uso deste artigo em qualquer mídia, sendo proibido o uso para qualquer finalidade comercial)

RESUMO
No sudeste do Piauí, uma área cárstica de dimensões reduzidas abriga uma centena de cavidades com vestígios arqueológcos, paleontológicos e indicadores paleo-climáticos. Estas cavidades, localizadas no entorno do Parque Nacional Serra da Capivara, mantêm uma relação direta com os demais sítios arqueológicos da região. Deve ser destacada a Toca da Janela da Barra do Antonião, o principal sítio do domínio cárstico, onde escavações evidenciaram uma rica fauna pleistocênica, sepultamento humano, pinturas rupestres e material lítico associado à megafauna. Em seu conjunto, a análise destes vestígios propiciarão uma melhor compreensão da Pré-história brasileira e da evolução do seu meio natural.

ABSTRACT
In the Southeast of Piauí, a karstic area of reduced dimensions is home to a large number of hollows containing archaeological and palaeontological remains and palaeoclimatic indicators. These hollows, which are situated in the vicinity of the Serra da Capivara National Park, are directly related to the other archaeological sites in the region. The site at Toca da Janela da Barra do Antonião stands out as the main site of the carstic region where excavations have uncovered evidence of a rich pleistocene fauna, human burial, rock paintings and stone material associated with the megafauna. Taken together, the analysis of these remains will enable a greater understanding of Brazilian pre-history and of the evolution of Brazil’s natural environments.

INTRODUÇÃO

    A Toca da Janela da Barra do Antonião é o sítio palentológico mais importate do domínio cárstico da região de São Raimundo Nonato, sudeste do Piauí. Este sítio se encontra em um carste residual localizado na área de entorno ao Sul do Parque Nacional Serra da Capivara, onde existem outras cavidades com jazidas fossilíferas.
    Desde 1986, pesquisas realizadas no carste têm evidenciado uma rica fauna pleistocênica com remanescentes holocênicos, estando os esqueletos, muitas vezes, em conexão. Também foi registrada a ocorrência de micro-mamíferos, uma avifauna diversificada, crocodilianos, quelônios, material lítico associado à ossos de mega-mamíferos, ossos com marcas de uso, sepultamento e registros gráficos. Escavações realizadas na Toca do Garrincho, Toca de Cima do Pilão e Toca do Serrote do Artur evidenciaram material de natureza similar, o que nos faz presumir sua relativa contemporaneidade.
    Estas escavações revelaram 50 taxa de mamíferos, dos quais, 20 extintos. Os mega-mamíferos pleistocênicos e a avifauna são bem representados, demonstrando que na região predominavam áreas abertas, com estrato herbáceo abundante, com setores de florestas conspícuas, temperarturas médias anuais menores que as atuais e uma maior circulação hídrica.
    Com o estudo sedimentológico dos depósitos químicos e físicos e estabelecimento de suas cronologias, estudo microestratigráfico, análise antracológica, palinológica e malacológica, além das relações bioestratigráficas, biogeográficas e biocronológicas, espera-se poder ter uma melhor compreensão do contexto paleoambiental de uma região culturalmente rica e diversificada.

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Figura  1 - Vista geral do PARNA Serra da Capivara 
Figure  1 -  General View of Serra da Capivara National Park

LOCALIZAÇÃO

    Localizada no Sudeste do Estado do Piauí e inserida no chamado "Polígono das Secas", a Área Arqueológica do Parque Nacional Serra da Capivara preserva mais de 400 sítios arqueológicos e paleontológicos. Em seu conjunto, as pesquisas realizadas fornecem uma base de dados que tornará possível uma melhor compreensão da Pré-história brasileira (Arnaud et al., 1984).
    Esta área está delimitada pelas coordenadas geográficas 8º e 9º 30’ de latitude Sul e 41º 30’ e 43º 30’ de longitude Oeste, com uma superficie de 40.000 Km2. Possui um clima seco tipo BShw ( Koppen ), com precipitacões irregulares no tempo e no espaço, com médias anuais da ordem de 650 mm. A estação das chuvas ocorre, geralmente, entre Outubro e final de Abril. São, em geral, localizadas e de curta duração. Estima-se uma evapo-transpiração potencial anual da ordem de 1400 mm, pelo método de Thornthwaite.
    A temperatura média anual é elevada ( 28º C ), com amplitude térmica anual na faixa de 5º C. O mês mais frio é junho, com temperatura mínima de 12º C, máxima de 35º C e média de 25º C. O início da estação das chuvas é o período mais quente do ano, com média de 31º C, máximas de 45º C e mínimas de 22º C.
    A vegetação típica é a caatinga arbustiva, de difícil penetração, mas com ocorrência de formações florestais nas ravinas, locais de uma maior concentração hídrica.
    Dois grandes domínios geomorfológicos se apresentam na região : ao Sul, a Depressão Periférica do São Francisco, com rochas Pré-cambrianas tectonizadas e migmatizadas, que constituem o embasamento cristalino; um segundo domínio, ao Norte, é representado pelas rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba, de idade Paleozóica e Mesozóica.
    O relevo da Depressão Periférica do São Francisco, com altitudes da ordem de 450 m, é caracterizado como um vasto pediplano, onde se projetam inselbergues gnáissicos e quartzíticos, batólitos graníticos intrusivos, micaxistos bem aplainados, além de maciços calcários metamorfizados.
    Já o relevo das rochas sedimentares da Bacia do Parnaíba apresenta extensa superfície plana, com altitudes que variam de 500 a 650 m, geralmente terminando em escarpas abruptas ( cuesta ). Este relevo tem aspecto ruiniforme devido à sua estrutura diaclasada, formando boqueirões, torres e arcos.
    Nestes boqueirões, ocorre a maior concentração de sítios arqueológicos com pinturas rupestres da região, pesquisados desde 1970 pela Missão Franco-Brasileira do Piauí. Em 1979, foi criado o Parque Nacional Serra da Capivara, sendo declarado Patrimônio Cultural da Humanidade em 1991 pela UNESCO. Políticas de preservação e pesquisas foram consolidadas com a criação da Fundação Museu do Homem Americano – FUMDHAM em 1986, que em co-gestão com o IBAMA, administra o Parna e o seu entorno.
    O Parque Nacional Serra da Capivara possui uma área de 130.000 ha, localizando-se nos municípios de São Raimundo Nonato, Coronel José Dias, João Costa e Brejo do Piauí. Seu flanco sul é limitado pela linha de cuesta, uma escarpa abrupta com desníveis que variam de 80 a 150 m. Frente à cuesta, distante poucos quilômetros, duas zonas cársticas se destacam no relevo, projetando-se quase uma centena de metros acima da planície.

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Figura  2 - Localização da Área Cárstica
Figura  2 - View of Karstic Area

HISTÓRICO

    As zonas cársticas são caracterizadas como um carste residual, constituído por vários morrotes de pequenas dimensões, que em sua totalidade, abrigam uma centena de cavidades, dentre elas, sítios arqueológicos e paleontológicos. Estes dois conjuntos cársticos são considerados como uma única unidade geológica, onde os morros individualizados são escamas calcárias, basculadas por uma fase tectônica de cavalgamento (Rodet, 1997).
    O carste da Área Arqueológica de São Raimundo Nonato apresenta uma superfície ruiniforme, sendo geralmente desnudo, com cavidades de pequenas dimensões em razão da compartimentação tectônica e segmentação dos maciços. Ocorre em um meta-calcário calcítico, microcristalino, finamente estratificado.
    Estes sítios cársticos, tão favoráveis à preservação de fósseis, começaram a ser pesquisados em 1986, tendo apresentado uma rica fauna pleistocênica, pinturas rupestres, sepultamentos, material lítico e cerâmico. Escavações foram realizadas na Toca do Garrincho, Toca de Cima dos Pilão, Toca do Serrote do Artur, devendo-se destacar a Toca da Janela da Barra do Antonião, atualmente sítio paleontológico de referência para a região (Guérin et al., 1993, 1996).
    Sua proximidade da linha de cuesta, o coloca dentro do complexo espacio-funcional da Toca do Boqueirão do Sítio da Pedra Furada, o sítio arqueológico mais importante da região, com uma ocupação humana que atingiu 50.000 anos B.P.
    Descoberta em 1986, esta jazida foi escavada até 1990 por Niède Guidon (Guidon et al., 1993). Várias ocupações humanas com indústria lítica e marcas em ossos de origem antrópica foram descobertas. Em julho de 1990 os restos de um esqueleto de uma mulher jovem de tamanho pequeno, particularmente grácil (pedaços de crânio, mandíbula incompleta, ossos longos, carpo e metacarpo, vértebras, costelas) foram descobertos sob enormes blocos caídos, na parte superior do preenchimento, sendo datados em 9700 anos (Peyre, 1993).

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Figura  3 - O sítio durante escavação
Figure  3 - The site under excavation

DESCRIÇÃO DO SÍTIO

    A Toca da Janela da Barra do Antonião  situa-se a 08º48’09"S e 42º25’01"W (mapa Barragem a 1/100 000). Sua orientação é SE / NW, com abertura para NE. Localiza-se no Serrote do Antonião, o maior maciço calcário desta zona, com extensão de 600 m no sentido N/S e 450 m no sentido E/W, com superfície de 0,3 Km2. A base do sítio está abaixo do nível de sedimentação do entorno, constituindo-se num ponto de convergência das águas superficiais dos períodos chuvosos, contribuindo para a formação dos depósitos fossilíferos.
    Esta Toca se apresenta como um vasto abrigo sob rocha orientado ao Norte, com uma largura de 180 m e uma profundidade de 28 m, o preenchimento alcança os 8 m. A superfície escavada, que se extende sobre 750 m2, foi dividida em 4 setores de Leste a Oeste : D, A, B e C. Uma trincheira de 72 m de comprimento foi aberta de Leste à Oeste, debaixo do limite da queda do abrigo. Observa-se uma declinação regular para o Leste. Efetivamente, a parede toda do abrigo apresenta grandes orifícios correspondentes às chegadas de água por condutos forçados durante os períodos chuvosos. A presença de numerosos seixos em material de origem alóctone (gnaisse, quartzito), e mesmo ossos, confirma esta paleo-circulação intra-cárstica.
    A indústria lítica inclue, em uma primeira análise, 1918 peças das quais 394 ferramentas sobre seixo (45 utilizadas, 227 seixos retocados com um ou vários retoques, 122 seixos retocados – choppers, choppings-tools e poliedros) e 271 seixos não utilizados. Contamos 142 lascas com córtex e 214 não corticais, entre as quais, 82 não retocadas. As ferramentas sobre lasca são 129 : buris, raspadores, ferramentas com entalhe, etc; há 74 fragmentos de lasca e 16 estilhas. Os núcleos são 199 e contamos ainda 479 fragmentos de seixos e indeterminados.
    Os seixos utilizados vêm sobretudo do setor A e depois dos setores D, C e B. Os seixos retocados se distribuem nos diferentes setores da seguinte maneira : 42% em A, 22% em C e D e 14% em B. As lascas não retocadas, às vezes utilizadas, são mais numerosas (50% em C, 33% em A, 9% em B e 8% em D), que as retocadas. As ferramentas sobre lascas estão distribuídas assim : 48% em C, 22% em A, 21% em D e 9% em B. 199 núcleos se repartem : 37% em A, 34% em C, 23% em D e 6% em B.
    As matérias primas utilizadas são quartzito (53%), quartzo (37%), arenito (4%), sílex (1%), e outras rochas (5%).
    Uma parte dos artefatos foi encontrada associada à restos de megafauna, nos mesmos níveis.
    Entre os milhares de restos de vertebrados (Guérin et al. 1993, 1996), reconhecemos quarenta e duas espécies de mamíferos, umas trinta espécies de pássaros, um Aligatorideo indeterminado, Chéloniens indet. entre os quais uma forma terrestre de tamanho grande que apresenta afinidades com o Geochelone, o peixe Plecostomus auroguttatus.. Também foram recolhidos moluscos.
    Os pássaros são os Tinamiformes Crypturellus noctivagus, C. parvirostris; o Ciconiiforme Theristicus caudatus; os Anseriformes Amazonetta brasiliensis, Cairina moschata; os Accipitriformes Accipiter bicolor, Polyborus plancus, Falco rufigularis, F. sparverius; o Galliforme Penelope superciliaris ou P. jacucaca; os Gruiformes Porzana carolina, cf. Porphyrula, cf. Gallinule; os Columbiformes Columba picazuro, Zenaida auriculata, Columbina minata, C. picui, cf. C. talpacoti; os Psittaciformes Ara chloroptera, Aratinga leucophtalmus, cf. A. cactorum, cf. Amazona aestiva; os Strigiformes Tyto alba, Otus choliba, Glaucidium minutissimum, G. brasilianum, Ciccaba virgata, Rhynoptynx clamator ou Ciccaba huhula; o Caprimulgiforme cf. Hydropsalis; o Apodiforme Streptoprocne zonaris; os Piciformes Colaptes melanochloros, Dryocopus lineatus ou Campephilus melanoleucos; Passériformes indet.

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Figura  4 - Vista do depósito sedimentar
Figure  4 - View of the deposited filling

    Os mamíferos são os Marsupiais cf. Didelphis albiventris, Monodelphis domestica, Marmosa cf. cinerea; os Preguiçosos terrestres Catonyx cuvieri, Eremotherium lundi e Xenocnus sp.; o Tatu Dasypus sp. e o Tatu gigante Pampatherium humboldti ; os Gliptodontes Hoplophorus euphractus, Panochthus greslebini, Glyptodon clavipes; os Morcegos Pteronotus parnellii, Tonatia bidens, Phyllostomus hastatus, Artibeus jamaicensis, Myotis sp., Molossus molossus, Tadarida brasiliensis, Holochilus brasiliensis; os Roedores Akodon cf. cursor, Calomys callosus, Oryzomys cf. subflavus, Oryzomys sp.,Thricomys apereoides, Kerodon rupestris, Galea spixii, Agouti paca; os Carnívoros Protocyon troglodytes, Cerdocyon thous, Canideo indet. cf. Speothos ou Cerdocyon, Mustelidae indet., Felis yagouaroundi e Smilodon populator ; o Litopterna Macrauchenia cf. patachonica; o Notoungulados Toxodon sp.; o Proboscídeos Haplomastodon waringi; os Equideos Hippidion bonaerensis et Equus neogaeus; os Pecaris Dicotyles tajacu e Tayassu pecari ; o Camelideo Palaeolama niedae (Guérin & Faure, 1999); os cervídeos Mazama gouazoubira , M. americana e um grande cervideo indéterminado cf. Blastocerus.

 

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Figura  5 - Plano de escavação
Figure  5 - Excavation plan

    O gigantesco Eremotherium é o animal mais abundante, seguido de longe pela Palaeolama, os Equídeos e o Mastodonte.
    Os quatro gêneros Eremotherium, Catonyx, Haplomastodon e Equus mostram que esta fauna é do Pleistoceno Superior. Um estudo detalhado da evolução de cada espécie através do tempo permitirá uma datação mais precisa.
    A comunidade ecológica definida pelo conjunto da fauna presente possui características bem particulares : a proporção elevada de espécies muito grandes, testemunha de uma vegetação muito abundante. A proporção elevada de predadores, a abundância de onívoros, a predominância de hervíboros hypsodontes sobre os brachyodontes e a dos grandes terrestres ubiqüistas, seguidos dos grandes terrestres florestais, levam a pensar numa paisagem mista. Remarcamos a ausência surprendente de grandes roedores como os Hydrochoerides, os Tapires e os Primatas. A comunidade ecológica dos mamíferos do Pleistoceno Superior da região de São Raimundo Nonato caracteriza uma paisagem de savana, localmente arbustiva baixa, entrecortada por zonas de floresta, sob um clima muito mais úmido que o atual.

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Figura  6 - Crânio de preguiça gigante Catonyx cuvieri
Figura  6 - The skull of the giant sloth Catonyx cuvieri

    As escavações mostraram vários horizontes principais de distribuição dos vestígios. A análise preliminar da repartição do conjunto do material nos permitiu repertoriar, além dos ossos e dos artefatos dispersos, 17 concentrações constituídas tanto de material lítico, como de material ósseo ou ainda mais frequentemente de uma mistura de ambos em proporções muito variáveis. Sua posição varia da parede rochosa no limite da queda do abrigo; sua profundidade vai de 0 a 5,6 m nos setores A (6 concentrações) e B (4 concentrações) e confirma o declive leste-oeste do preenchimento. O setor C (5 concentrações) deixa de ser fossilífero além de 2 m de profundidade. No setor D duas concentrações de ossos contém algumas peças líticas e até 2,99 m de profundidade há muitos ossos dispersos.

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Figura  7 - mão em conexão de Catonyx cuvieri  
Figure  7 - The connected hand of Catonyx cuvieri

    O estudo preliminar do sedimento e da topografia atual, assim como as observações tafonômicas, permitem adiantar a hipótese de uma origem dupla do preenchimento, da seguinte forma :

    A Toca da Janela da Barra do Antonião é o sítio paleontológico no domínio do carste mais importante na área arqueológica de São Raimundo Nonato. Seu estudo nos permitirá situar o homem paleolítico sudamericano no seu meio ambiente.

 MEDIDAS DE PROTEÇÃO

    Infelizmente estes maciços estão bastante descaracterizados pela produção ilegal de cal que remonta à mais de duas décadas. Calcula-se que cerca de 50% da superfície dos maciços já tenha sofrido impacto antrópico. A retirada de blocos para a montagem das caieiras artesanais foi responsável pela destruição de cavidades e de pinturas rupestres, tendo reflexos bastante negativos sobre a flora local, devido à retirada de madeira para a queima destas caieiras.
    Ao mesmo tempo, pesquisadores são impedidos de acessar determinadas áreas, causando transtornos ao andamento dos trabalhos.
    Somente em meados de 1999 é que conseguiu-se o embargo desta atividade. Por ser esta atividade de base para a população local, acredita-se que somente com a implementação de projetos de alternativas econômicas (Ecoturismo, apicultura), aliada à adoção uma estratégia de proteção e pesquisa mais efetiva dos maciços, é que sua integridade poderá ser assegurada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Arnaud,M.B.; Emperaire,L.; Guidon,N.; Pellerin,J. 1984.  L’Aire archéologique du Sud-Est du Piauí (Brésil). Vol. 1: le milieu et les sites, Editions Recherche sur les Civilisations, "Synthèse" n° 16, 118 p., 9 fig., 2 tabl., 5 pl., 6 cartes h.t.

Guerin,C.; Curvello,M.A.; Faure,M.; Hugueney,M.; Mourer-Chauvire,C. 1993. La faune pléistocène du Piauí (Nordeste du Brésil): implications paléoécologiques et biochronologiques. Quaternaria Nova, Roma, III, p. 303-341, 3 tabl., 8 fig.

Guerin,C.; Curvello,M.A.; Faure,M.; Hugueney,M.; Mourer-Chauvire,C. 1996. The Pleistocene fauna of Piauí (Northeastern Brazil). Palaeoecological and biochronological implications / A fauna pleistocênica do Piauí (Nordeste do Brasil). Relações paleoecologicas e biocronologicas. Fumdhamentos (Revista da Fundação do Homem Americano), São Raimundo Nonato, vol. 1, n° 1, p. 55-103, 8 fig., 4 tabl., e discussões, p. 259-336 (bilingüe inglês/português) .

Guerin,C.; Faure,M. 1999.  Palaeolama (Hemiauchenia) niedae nov. sp, nouveau Camelidae du Nordeste Brasilien, et sa place parmi les Lamini d’Amérique du Sud, Geobios, Lyon, n° 32, 4,p. 629-659, 11 fig., 12 quadros.

Guidon,N.; Luz,M.F.; Guerin,C.;  Faure,M. 1993. La Toca de Janela da Barra do Antonião et les autres sites paléolithiques karstiques de l’aire archéologique de São Raimundo Nonato (Piauí, Brésil): état des recherches. Actes XIIème Congrès international Sciences préhistoriques et protohistoriques (Bratislava, septembre 1991), Bratislava, vol. 3, p. 483-491, 3 fig.

Peyre,E. 1993. Nouvelle découverte d’un homme préhistorique américain: une femme de 9700 ans au Brasil. C.R. Acad. Sci. Paris, sér. II, t. 316, p. 839-842.

Rodet,J. 1997. As zonas cársticas de São Raimundo Nonato (Piauí, Brasil). O carste, Belo Horizonte, vol. 9, n° 1, p. 2-7, 7 fig.