Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil - 005 O MEMBRO CRATO DA FORMAÇÃO SANTANA, CE Data: 27/09/1999 Maria Somália Sales Viana Universidade Federal de
Pernambuco - Centro de Ciências e Tecnologia - Departamento de Geologia © Viana,M.S.; Neumann,V.H.L. 1999. O Membro Crato da Formação Santana, CE. In: Schobbenhaus,C.; Campos,D.A.; Queiroz,E.T.; Winge,M.; Berbert-Born,M. (Edit.) Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil. Publicado na Internet no endereço http://www.unb.br/ig/sigep/sitio005/sitio005.htm [atualmente https://sigep.eco.br/sitio005/sitio005.htm]
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RESUMO
O Membro Crato da Formação Santana constitui um importante sítio geológico e
paleontológico do País, situado no interior da região Nordeste. Esta unidade é parte
integrante da bacia sedimentar do Araripe, aflorando principalmente no seu flanco
nordeste.
Litologicamente, compõe-se de estratos horizontalizados de calcários, intercalados a
folhelhos, siltitos e arenitos, depositados durante o Cretáceo Inferior (cerca de 120
milhões de anos) e é uma importante jazida de calcário, atualmente explotado para a
indústria de cimento e de rochas ornamentais. Seus estratos são ricamente fossilíferos,
incluindo registros de fauna e flora diversificados e abundantes, além de muito bem
preservados. A entomofauna e a flora representam, especialmente, um registro muito
significativo para o conhecimento da evolução das angiospermas.
A atividade mineira nos calcários vem proporcionando, além da destruição do
patrimônio fossilífero, degradação da paisagem local, através do assoreamento de
riachos e do aumento de zonas de erosão. Esse fato suscita certa urgência em medidas de
preservação como a criação de parques temáticos, incrementando a economia regional
com atividades eco-turísticas.
ABSTRACT
The Crato
Member of the Santana Formation is an important geologic and paleontologic site in Brazil,
located at the interior of Northeastern region. This unit is part of the Sedimentary
Araripe Basin where the main outcrops are in the Northeast flank.
Litologically, it is composed by horizontal calcareous beds, interfingered to
shales, siltstones and sandstones, deposited during the Lower Cretaceous (about 120 m.
y.). These calcareous rocks are exploited by the cement and ornamental rocks industries,
forming an important mining activity in the country. These rocks are also very rich in
fossils, including an abundant and diversified fauna and flora, well preserved. The
entomofauna and the flora represent a significant record to the knowledge of the
angiosperm development.
The mining activities cause partial fossil and local nature fisiography
destruction. An urgent preservation program as the creation of parks and eco-turistic
activities is most necessary.
O Membro Crato da Formação Santana compõe-se basicamente de estratos horizontalizados de rocha calcária (Figura 1), e, junto com o Membro Romualdo, constituem um dos mais importantes sítios paleontológicos do País a Formação Santana da bacia sedimentar do Araripe, além de também representar igualmente notável sítio geológico.
Figura 1 Painel estratigráfico
simplificado para o sistema lacustre Aptiano-Albiano da Sub-bacia E do Araripe.
Figure 1 Simplified stratigraphic scheme for the Aptian-Albian lacustrine system
of the E Araripe Sub-basin.
A deposição desta unidade ocorreu durante o Cretáceo
Inferior (cerca de 120 milhões de anos) e os fósseis contidos são relativamente
abundantes e diversificados, incluindo invertebrados (ostracodes, conchostráceos,
insetos, aracnídeos, biválvios e gastrópodes), vertebrados (actinopterígios,
celacantos, pterossauros, quelônios, crocodilianos, lagartos, aves e anuros) e vegetais
(algas, gimnospermas e angiospermas), além de icnofósseis (coprólitos, pistas de
invertebrados e estramatólitos) e palinomorfos.
Esses fósseis apresentam bom estado de
preservação, normalmente por processos de piritização, limonitização ou
carbonização, e, os mais abundantes são os insetos, peixes (principalmente o gênero Dastilbe)
e vegetais. A entomofauna e a flora representam, especialmente, um registro muito
significativo para o conhecimento da evolução das angiospermas.
As áreas aflorantes deste sítio bordejam a chapada do Araripe e pertencem
principalmente aos municípios de Porteiras, Barbalha, Crato, Nova Olinda e Santana do
Cariri, no Estado do Ceará (Figuras 2 e 3). Podem ser observadas formando cachoeiras nos
riachos ou suaves colinas abaixo das escarpas da chapada.
O clima neste setor nordeste da bacia é tropical úmido, correspondente à
classificação Aw de Köppen, com regime pluviométrico de 700 a 1.000 mm/ano. A
temperatura média anual é de cerca de 27oC.
Figura 2 Mapa de localização da
área de estudo e geológico simplificado.
Figure 2 Location area and geologic map.
Figura 3 Mapa de localização dos
principais afloramentos do Membro Crato (ritmitos argila-carbonato e calcários laminados)
na Sub-bacia E do Araripe. O esquema foi rotacionado para se obter uma melhor
visualização das localidades.
Figure 3 Location map of the main outcrops of the Crato Member (clay-carbonate
rhythmites and laminated limestones) at the E Araripe Sub-basin. The draw was rotationed
to obtain a better view of the site localizations.
A história das pesquisas
paleontológicas na Bacia do Araripe inicia-se em 1823 com a vinda dos estudiosos Spix e
Martius ao Brasil, chefiando uma missão científica, determinada pelo rei da Baviera
Maximiliano José I, para estudar as riquezas naturais da América do Sul. Esses autores
notificaram o primeiro registro fossilífero da região do Araripe, salientando a
ocorrência de peixes em concreções (do Membro Romualdo da Formação Santana) e em
calcários (do Membro Crato da dita unidade).
Figura
4 Dastilbe elongatus
Santos.
Figure 4 Dastilbe elongatus Santos.
LOCALIZAÇÃO A Bacia Sedimentar do Araripe
localiza-se no interior do Nordeste do Brasil, na Província Estrutural Borborema (Brito
Neves, 1990), e ocupa parte dos Estados do Piauí, Pernambuco e Ceará. Está situada
entre os meridianos 380 30 e 40050 de longitude W de
Greenwich e os paralelos 7005 e 7050 de latitude S. Esta
bacia foi dividida por Rand e Manso (1984) em duas sub-bacias, oeste (W) e leste (E)
(Figura
2).
DESCRIÇÃO DO SÍTIO
O Membro Crato da Formação Santana representa uma seqüência lacustre, predominantemente carbonatada, que foi originalmente denominada por Small (1913) como "calcários de Santana". Nesse membro, as associações de facies lacustres carbonatadas estão compostas principalmente por seis pacotes carbonáticos (C1 a C6, Figura 1), constituídos de calcários micríticos laminados e ritmitos argila-carbonato, apresentando cores que variam do bege ao marrom e do cinza claro ao cinza azulado, que se alternam com folhelhos e arenitos finos. Os ritmitos de argila-carbonato ocorrem sempre nas bases dos pacotes carbonáticos, sendo recobertos pelos calcários laminados. Nos pacotes de calcários laminados estão presentes pseudomorfos de sal (halita) e diversos tipos de fósseis bem preservados, como peixes, principalmente Dastilbe (Figura 4), insetos e plantas (Figura 5).
Figura 5 Vegetais e plantas do Membro Crato da
Formação Santana. A. Gimnosperma (Brachyphyllum Brongniart); B. Angiosperma (flor
indeterminada); C. Angiosperma (flor indeterminada); D. Zigoptera; E. Ephemeroptera; F.
Blattodea. Esses espécimes pertencem à coleção de fósseis da Universidade Federal de
Pernambuco. As barras em cada foto correspondem a 1 cm.
Figure 5 Plants and insects of the Crato Member of the Santana Formation: A.
Gimnospermae (Brachyphyllum Brongniart); B. Angiospermae (undetermined flower); C.
Angiosperma (undetermined flower); D. Zigoptera; E. Ephemeroptera; F. Blattodea. These
specimens belong to the fossil colection of the Federal University of Pernambuco. The bars
in each foto correspond to 1 cm.
Figura 6 Mapa de detalhe da
localização dos três principais sítios paleontológicos e geológicos na Sub-bacia E
do Araripe.
Figure 6 Detailled map of location of the three main paleontological and
geological sites at the E Araripe Sub-basin.
a) As pedreiras da região entre Nova Olinda Santana do Cariri
Nas margens esquerda e direita da rodovia estadual CE-255, que liga a cidade de Nova Olinda a Santana do Cariri, na altura dos km 4 e 5 (Figura 6), afloram os calcários laminados, que são explotados de forma artesanal (Figura 7), devido à sua facil retirada em forma de placas, para serem comercializados na construção civil, quer como base e muro de casas, ou como rocha ornamental de revestimento ou para mesas e balcões.
Figura
7 Exploração artesanal dos
calcários laminados (unidade carbonatada C6, Figura1) do Membro Crato da Formação
Santana. Afloramento na altura do km 4-5, da rodovia C-255, entre as cidades de Nova
Olinda e Santana do Cariri. Na foto, observa-se os entulhos deixados após a seleção das
melhores placas, que são comercializadas.
Figure 7 Craft exploitation of laminated limestones (carbonated unit C6,
Figure 1)
of the Crato Member of the Santana Formation. This outcrop is located in km 4-5 of the
road CE-255, between Nova Olinda and Santana do Cariri Towns. The photo shows the rejected
material, after sorting the best one.
b) As pedreiras das margens do Rio Batateiras
As pedreiras do Rio Batateiras localizam-se principalmente na margem direita do rio, na localidade conhecida como "Cachoeira", no Bairro do Lameiro, na cidade do Crato (Figura 6). O calcário laminado que é retirado para a comercialização pertence ao pacote carbonatado C4 (Figura 1), que apresenta espessuras entre 3 e 6 m, nesta área.
c) As pedreiras de Santa Rita e Caldas
As pedreiras de Santa Rita e Caldas (Figura 6) pertencem à indústria IBACIP Barbalha, que retira os pacotes carbonáticos C3, C4 e C5 (Figuras 1 e 8) para a fabricação de cimento.
Figura
8 – Foto da Pedreira Caldas, mostrando a frente de lavra SW-NE, da qual o
Membro Crato da Formação Santana (representado pelas unidades carbonatadas C3,
C4 e C5, Figura 1) é explotado para a fabricação de cimento.
Figure 8 – Photo of Caldas quarry, showing the exploitation front SW-NE.
The Crato Member of the Santana Formation (represented by the cabonated units
C3, C4 and C5, Figure 1) is exploited by the cement industry.
MEDIDAS DE PRESERVAÇÃO
As rochas do Membro Crato
constituem uma importante jazida de calcário e são, atualmente, explotadas, para a
indústria de cimento e de rochas ornamentais (Figuras 7 e 8). Por isso, seu rico conteúdo
fossilífero vem sendo perdido com essa atividade, que também tem promovido, em grande
escala, o assoreamento dos riachos e aumentado zonas de erosão, agredindo,
conseqüentemente, a paisagem local (Figura 7).
Também o comércio de fósseis, tem favorecido a explotação ilegal desse patrimônio
cultural da humanidade, exercida principalmente nas minas para extração de rochas
ornamentais.
Dessa forma, são urgentes medidas de preservação deste importante sítio
paleontológico. A criação de parques, por exemplo, ajudaria sobremaneira a
preservação de algumas áreas, visto que a região possui uma vocação natural para
isso, sendo abrigo de um importante parque ecológico (a primeira floresta tombada do
País, com 38.262 hectares e criada em 1946 pelo Decreto Lei 9226) em um ecossistema de
serra úmida, denominado Floresta Nacional do Araripe-FLONA, sob a administração do
IBAMA.
A região da chapada do Araripe é extremamente privilegiada pela paisagem exibida nas
formas do relevo, pelas fontes de água mineral, pela vegetação e por um clima serrano
relativamente ameno. Lá também existem dois museus de fósseis nas cidades de Crato e
Santana do Cariri. Além disso, a área do vale do Cariri (incluindo as cidades de
Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte) já possui estratégias bem desenvolvidas voltadas
para o turismo, como comércio de artesanatos, festas religiosas, clubes recreativos, boa
rede hoteleira, etc.. Tais aspectos contribuem para que atividades eco-turísticas sejam
facilmente incrementadas na economia regional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Beurlen,K. 1963. Geologia e estratigrafia da chapada do Araripe. In: Congresso Brasileiro de Geologia,17, Rio de Janeiro, 1963. SBG, Anais: 1-47.
Beurlen, K. 1971. As condições ecológicas e faciológicas da Formação Santana, na chapada do Araripe (Nordeste do Brasil). Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro, 43 (suplemento): 411-415 .
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Neumann,V.H.; Cabrera,L. 1999. Una nueva propuesta estratigráfica para la tectonosecuencia post-rifte de la cuenca de Araripe, noreste de Brasil. In: Simpósio Cretáceo Brasileiro, 5, Serra negra, 1999. UNESP, Boletim de Resumos: 279-285.
Santos,R.S. 1947. Uma redescrição de Dastilbe elongatus, com algumas considerações sobre o gênero Dastilbe. Rio de Janeiro, Divisão de Geologia e Mineralogia, Boletim 42, 7 p.
Small,H. 1913. Geologia e suprimento de água subterrânea no Ceará e parte do Piauhy. Inspetoria de Obras Contra Secas. 180 p. (Série Geologia, Vol.25)