Ordinary mortals communicate rather freely, while intellectuals have succeeded in erecting barriers between them that they don't know how to dissolve
Os mortais comuns comunicam-se livremente, enquanto que os intelectuais conseguiram erguer barreiras de comunicação entre si  as quais não sabem como quebrar
                        
                          Marie Curie


O que é um sítio geológico??

Manfredo Winge
IG/UnB; SIGEP/SBG
1999       

   A Terra em que vivemos já tem mais de quatro e meio bilhões de anos. Ela não foi sempre igual ao que é hoje porque existe um conjunto de circunstâncias físicas e químicas, variáveis ao longo do tempo, que têm mudado substancialmente a cara desta nossa residência sideral.
    Os processos que atuam na Terra, mudando a sua fisionomia (superfície terrestre) e também as suas entranhas (o seu interior), chamam-se processos geológicos.

"Geologia como usado em sentido amplo é o estudo da Terra e de outros planetas e objetos planetários, usando toda e qualquer das técnicas disponíveis: geologia inclui geoquímica e geofísica (Conselho da Sociedade Geológica da América).
A geologia compreende o estudo das rochas e sua história, o estudo da estrutura e dos processos internos e a conexão que têm com as rochas e o relevo superficiais do planeta,  assim como o estudo do desenvolvimento e a história da vida. Geologia é o estudo de complexos sistemas que envolvem os oceanos, a atmosfera, a biosfera e Terra sólida. A revolução da ciência planetária ampliou o objetivo de estudo da geologia ao incluir outros corpos planetários além da Terra."
Texto extraído e traduzido de Moores,Eldridge.2000-GSA TODAY, 9(11):3

    Instabilidades no interior terrestre devidas, principalmente,  a variações de energia térmica, de peso e pressão de rochas e variações de componentes fluidos, provocam efeitos, alguns catastróficos, que se refletem, quase sempre, na superfície terrestre como é o caso de terremotos, vulcões, formação de novas montanhas como os Andes, os Alpes e muitos outros fenômenos. Já na Lua, entretanto, o fato de estar internamente sem atividades significativas (a Lua é geofisicamente "morta") e de não ter atmosfera, faz com que grande parte do seu relevo seja praticamente igual ao que era há mais de um bilhão de anos. 

vulcao2.gif (17508 bytes)

     Entretanto, muitos dos processos terrestres não são percebidos de imediato porque evoluem muito lentamente. Por exemplo, a África afasta-se da América do Sul a uma velocidade de 2 a 4 centímetros por ano. Entre os dois continentes, numa extensa fenda que ocorre entre elevações submarinas (cadeia ou cordilheira meso-oceânica) sai rocha derretida (magma) que preenche este espaço que vai se formando com o afastamento, vasa pelos lados e "congela" como rocha vulcânica junto a essa cordilheira que fica, em sua maior parte, a quilômetros de profundidade. É uma velocidade de  afastamento pequena, mas suficiente para, ao fim de mais de 80 milhões de anos, ter separado os dois continentes que estavam antes juntos em uma grande massa continental chamada Gondwana (que continha também a Austrália e a Índia também separadas da África com a formação do Oceano Índico). Este movimento dos continentes, separando-se e encontrando-se, chama-se "deriva continental". Veja mais em This Dynamic Earth-The Story of Plate Tectonics - USGS de onde foi copiada a figura abaixo:

© USGS (copied from This Dynamic Earth-The Story of Plate Tectonics - USGS)

 
    A matéria fundida que sai no meio dos oceanos e endurece formando uma crosta oceânica é escura, de composição de rocha basáltica com elementos químicos mais pesados (SIMA) do que a média dos elementos que formam os continentes (SIAL) onde são comuns as rochas com a composição do granito. É por isso que constituem áreas mais baixas preenchidas pelos oceanos, enquanto que os continentes, com rochas mais leves, são mais elevados pois "bóiam" sobre camadas mais profundas e quentes da Terra que têm comportamento plástico.

placas.jpg (65679 bytes)

Ver mais em The Dynamic Earth-Univ.North Carolina


    Este afastamento de "placas" duras de rochas da litosfera (camada mais externa da Terra), chamadas placas tectônicas, arrastadas e deslizando sobre camadas mais profundas e quentes, com comportamento de "chiclete" (astenosfera) da Terra, requer que se tenha espaço superficial para as placas.
    O que acontece então? - As placas tectônicas são confrontadas do lado contrário ao do afastamento (onde se forma crosta oceânica) sendo que a placa mais pesada neste confronto mergulha por baixo da mais leve. Neste embate a placa mais leve vai sendo soerguida, camadas de rochas vão sendo amarrotadas e transformadas, vulcões se formam, terremotos e vários outros processo geológicos ocorrem. Este é o palco geológico principal de formação de cadeias de montanhas em margens continentais ou de arcos de ilha, como os do Japão, do Caribe e outros, em ambiente oceânico.


Figure copied from USGS - This Dynamic Earth-The Story of Plate Tectonics - USGS

 

    Os continentes com elevações variadas estão expostos à ação das intempéries, chuvas e ventos principalmente, que promovem o "apodrecimento" (intemperismo) da rocha por reações químicas e ação física, fazendo com que ela se transforme em solo ou terra onde se fixam as plantas.
    A chuva, o vento e as geleiras arrastam este solo e rochas associadas para outros lugares na forma de areia, lama, cascalho em um processo chamado erosão.   As  raízes das plantas "amarram"  o solo dificultando este processo de "lavagem" da capa superficial de solo que cobre as rochas. E com a fixação de plantas, a vida desenvolve-se abundantemente o que não acontece com as regiões desérticas. Assim, retirar indiscriminadamente o capeamento vegetal (matos, florestas..) leva a acentuação da erosão, entupimento dos canais dos rios o que provoca enchentes, e a destruição de vidas, diminuindo a qualidade de vida do planeta para o próprio homem.
    O material de erosão é transportado por riachos e rios, principalmente, para as partes mais baixas do terreno, tendendo a depositar nos lagos e mares onde acumulam, camada a camada, ano a ano, formando os depósitos sedimentares. O peso de muitas toneladas acima compacta este material, expulsa a água que tem nos interstícios e faz com que ele se transforme em rocha (rocha sedimentar).
    O processo de erosão faz com que montanhas atuais tenham como destino certo o seu desbaste lento e progressivo. Ao fim de milhões de anos. grandes montanhas são transformadas em planícies por erosão. As entranhas destes terrenos antes elevados são expostas, permitindo que o geólogo recolha informações sobre a evolução, incluindo métodos sofisticados que permitem datar com boa precisão a idade das rochas e dos processos geológicos associados.
    As rochas estudadas mostram feições que indicam, por comparação com o que se vê acontecer hoje, o que aconteceu na terra naquele lugar.
Assim, as ocorrências das rochas com seus minerais e composições químicas, suas estruturas e texturas, seus fósseis (restos de seres como os dinossauros que não existem mais), suas formas de relevo, etc.. indicam, muitas vezes com precisão, qual a origem da rocha e como ela evoluiu e se transformou no interior da Terra  pelas altas pressões e temperaturas (ciclo endógeno) e em sua superfície ao ser soerguida por forças tectônicas e sofrer intemperismo e erosão (ciclo exógeno).
    Este é o trabalho do Sherlock Holmes da natureza terrestre: o geólogo (geo=terra e logus= conhecimento ou estudo). Ele estuda na área de interesse as rochas e seus minerais, suas formas de relevo, seus fósseis,..  e como elas se relacionam no espaço e no tempo, podendo inferir, com base nos dados e em modelos, por exemplo, como evoluiram, qual é mais velha, temperaturas de origem e de evolução, qual o clima, que seres viviam na época. Pode-se dizer, assim, que as rochas, minerais, fósseis e feições topográficas com seus aspectos específicos correspondem a "arquivos de uma grande biblioteca" que retrata a História de nosso Planeta.

    Certas ocorrências geológicas são muito especiais e importantes porque registram a origem e evolução da Terra naqueles locais e que podem ser correlacionados com locais de outros países ou porque apresentam aspectos estéticos excepcionais como belas paisagens por exemplo. São os SÍTIOS GEOLÓGICOS que merecem/devem ser PRESERVADOS.
   
Entretanto, muitas rochas e feições geológicas com interesse científico e/ou que apresentam beleza natural, como as cavernas, os locais com fósseis (restos de seres ou de indícios indicando a evolução da vida na Terra),.. são, com freqüência, destruídas pela ganância e incompetência do Homem em preservá-las dentro de nossa sociedade atual consumista e  imediatista. Por exemplo, nas cavernas formadas por dissolução de rochas carbonáticas formam-se estruturas cônicas a colunares, métricas a decamétricas denominadas estalactites e estalagmites; são desenvolvidas com o lento e continuado gotejamento seguido de evaporação de água rica em sais dissolvidos que vem por fendas, precipitando carbonato de cálcio no teto e no chão da caverna. O estudo científico de tais feições, incluindo a análise de isótopos de C e de O, permite, junto com o estabelecimento de idades dessas estruturas e outras determinações, estabelecer com bastante segurança quais as condições climáticas reinantes na região há milhares de anos e confrontá-las com aspectos da fauna e flora (fósseis) então existentes e, assim, através de estudos comparados de várias regiões e do mundo todo, estabelecer importantes traços sobre a evolução de clima e da vida na terra, incluindo as nossas origens como seres humanos.  De forma semelhante a destruição de nossos ricos patrimônios paleontológicos, como o da Chapada do Araripe, com fósseis sendo muitas vezes descaracterizados e espalhados para venda para turistas, vem, certamente, prejudicando estudos sobre as espécies de peixes, tartarugas e outros inúmeros animais que então existiam. (Acesse os Sítios Espeleológicos no para ver algumas de nossas cavernas brasileiras e suas feições características e os Sítios Paleontológicos para ver fósseis)

    Para evitar a perda de nosso rico patrimônio geológico, a SIGEP - Comissão de Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil, dentro da linha programática da Unesco de preservação do patrimônio natural da humanidade, está promovendo a catalogação e descrição de sítios brasileiros que podem ser vistos neste site:

https://sigep.eco.br/

que tem, portanto, características dinâmicas de  Data Bank, comportando acréscimos de novos sítios e atualizações ou correções dos já descritos.

Cada sítio é selecionado a partir de um formulário obtido na internet em página que contém as diretrizes para seu preenchimento e os proponentes que se candidatam a descrevê-lo devem, necessariamente, tê-lo estudado com critérios científicos e buscar a colaboração de outros pesquisadores que porventura tenham estudado o mesmo sítio ou a geologia da área do sítio com o enfoque tipológico.

    Os sítios já selecionados e publicados podem ser acessados em sitios
ou via mapa-índice do Brasil com os "pontos" dos sítios.

REF. Winge,M. 1999. O que é um sítio geológico?. In: Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil, SIGEP. Publicado na Internet em: https://sigep.eco.br/apresenta.htm 


SÍTIOS GEOLÓGICOS E PALEONTOLÓGICOS DO BRASIL

    Buscando evitar o "geologuês" para que pessoas não formadas na área possam acompanhar e auxiliar neste esforço que está sendo feito de preservar o nosso patrimônio natural, serão apresentadas algumas das descrições já efetuadas, mas com linguagem mais acessível. Assim como ocorre com os artigos científicos, tais descrições poderão vir a ser publicadas em livro, caso se configure a sua necessidade pela SIGEP.

Boa leitura!!!!!!!!!

1- VER Pre prints:

2 - VER ESSAS DESCRIÇÕES REVISADAS: capítulos publicados no VOLUME III

    Veja mais sobre Geologia em:

O que é GEOLOGIA ? => Veja no 1o site do Instituto de Geociências da UnB mais informações: https://mw.eco.br/ig/cursos/index.htm#IV