Ordinary mortals communicate rather freely, while intellectuals have
succeeded in erecting barriers between them that they don't know how to
dissolve |
O que é um sítio geológico?? Manfredo Winge |
A Terra em que vivemos já
tem mais de quatro e meio bilhões de anos. Ela não foi sempre igual ao que é hoje
porque existe um conjunto de circunstâncias físicas e químicas, variáveis ao longo do
tempo, que têm mudado substancialmente a cara desta nossa residência sideral.
Os processos que atuam na Terra, mudando a sua fisionomia
(superfície terrestre) e também as suas entranhas (o seu interior), chamam-se
processos geológicos.
"Geologia
como usado em sentido amplo é o estudo da Terra e de outros planetas e objetos
planetários, usando toda e qualquer das técnicas disponíveis: geologia inclui
geoquímica e geofísica (Conselho da Sociedade Geológica da América). |
Instabilidades no interior terrestre devidas, principalmente, a variações de energia térmica, de peso e pressão de rochas e variações de componentes fluidos, provocam efeitos, alguns catastróficos, que se refletem, quase sempre, na superfície terrestre como é o caso de terremotos, vulcões, formação de novas montanhas como os Andes, os Alpes e muitos outros fenômenos. Já na Lua, entretanto, o fato de estar internamente sem atividades significativas (a Lua é geofisicamente "morta") e de não ter atmosfera, faz com que grande parte do seu relevo seja praticamente igual ao que era há mais de um bilhão de anos.
Entretanto, muitos dos processos terrestres não são percebidos de imediato porque evoluem muito lentamente. Por exemplo, a África afasta-se da América do Sul a uma velocidade de 2 a 4 centímetros por ano. Entre os dois continentes, numa extensa fenda que ocorre entre elevações submarinas (cadeia ou cordilheira meso-oceânica) sai rocha derretida (magma) que preenche este espaço que vai se formando com o afastamento, vasa pelos lados e "congela" como rocha vulcânica junto a essa cordilheira que fica, em sua maior parte, a quilômetros de profundidade. É uma velocidade de afastamento pequena, mas suficiente para, ao fim de mais de 80 milhões de anos, ter separado os dois continentes que estavam antes juntos em uma grande massa continental chamada Gondwana (que continha também a Austrália e a Índia também separadas da África com a formação do Oceano Índico). Este movimento dos continentes, separando-se e encontrando-se, chama-se "deriva continental". Veja mais em This Dynamic Earth-The Story of Plate Tectonics - USGS de onde foi copiada a figura abaixo:
© USGS (copied from This Dynamic Earth-The Story of Plate Tectonics - USGS)
A matéria fundida que sai no meio dos oceanos e endurece formando uma
crosta oceânica é escura, de composição de rocha basáltica com elementos químicos
mais pesados (SIMA) do que a média dos elementos que formam os continentes (SIAL) onde
são comuns as rochas com a composição do granito. É por isso que constituem áreas
mais baixas preenchidas pelos oceanos, enquanto que os continentes, com rochas mais leves,
são mais elevados pois "bóiam" sobre camadas mais profundas e quentes da Terra
que têm comportamento plástico.
Ver mais em The Dynamic Earth-Univ.North Carolina
Este afastamento de "placas" duras de rochas da
litosfera (camada mais externa da Terra), chamadas placas
tectônicas, arrastadas e deslizando sobre camadas mais profundas e quentes, com
comportamento de "chiclete" (astenosfera) da
Terra, requer que se tenha espaço superficial para as placas.
O que acontece então? - As placas tectônicas são confrontadas do
lado contrário ao do afastamento (onde se forma crosta oceânica) sendo que a placa mais
pesada neste confronto mergulha por baixo da mais leve. Neste embate a placa mais leve vai
sendo soerguida, camadas de rochas vão sendo amarrotadas e transformadas, vulcões se
formam, terremotos e vários outros processo geológicos ocorrem. Este é o palco
geológico principal de formação de cadeias de montanhas em margens
continentais ou de arcos de ilha, como os do Japão, do Caribe e outros, em
ambiente oceânico.
Figure copied from USGS - This Dynamic Earth-The Story of Plate Tectonics - USGS
Os continentes com
elevações variadas estão expostos à ação das intempéries, chuvas e ventos
principalmente, que promovem o "apodrecimento" (intemperismo) da rocha por
reações químicas e ação física, fazendo com que ela se transforme em solo ou terra
onde se fixam as plantas.
A chuva, o vento e as geleiras arrastam este solo e rochas associadas
para outros lugares na forma de areia, lama, cascalho em um processo chamado erosão.
As raízes das plantas "amarram" o solo dificultando este
processo de "lavagem" da capa superficial de solo que cobre as rochas. E com a
fixação de plantas, a vida desenvolve-se abundantemente o que não acontece com as
regiões desérticas. Assim, retirar indiscriminadamente o capeamento vegetal (matos,
florestas..) leva a acentuação da erosão, entupimento dos canais dos rios o
que provoca enchentes, e a destruição de vidas, diminuindo a
qualidade de vida do planeta para o próprio homem.
O material de erosão é transportado por riachos e rios,
principalmente, para as partes mais baixas do terreno, tendendo a depositar nos lagos e
mares onde acumulam, camada a camada, ano a ano, formando os depósitos sedimentares. O
peso de muitas toneladas acima compacta este material, expulsa a água que tem nos
interstícios e faz com que ele se transforme em rocha (rocha sedimentar).
O processo de erosão faz com que montanhas atuais tenham como destino
certo o seu desbaste lento e progressivo. Ao fim de milhões de anos. grandes montanhas
são transformadas em planícies por erosão. As entranhas destes terrenos antes
elevados são expostas, permitindo que o geólogo recolha informações sobre a
evolução, incluindo métodos sofisticados que permitem datar com boa precisão a
idade das rochas e dos processos geológicos associados.
As rochas estudadas mostram feições que indicam, por comparação com
o que se vê acontecer hoje, o que aconteceu na terra naquele lugar.
Assim, as ocorrências das rochas com seus minerais e
composições químicas, suas estruturas e texturas, seus fósseis (restos de seres
como os dinossauros que não existem mais), suas formas de relevo, etc.. indicam,
muitas vezes com precisão, qual a origem da rocha e como ela evoluiu e se
transformou no interior da Terra pelas altas pressões e temperaturas
(ciclo endógeno) e em sua superfície ao ser soerguida por forças tectônicas e sofrer intemperismo e erosão
(ciclo exógeno).
Este é o trabalho do Sherlock Holmes da natureza terrestre: o geólogo
(geo=terra e logus= conhecimento ou estudo). Ele estuda na área de
interesse as rochas e seus minerais, suas formas de relevo, seus fósseis,..
e como elas se relacionam no espaço e no tempo, podendo inferir, com base nos
dados e em modelos, por exemplo, como evoluiram, qual é mais velha, temperaturas
de origem e de evolução, qual o clima, que seres viviam na época. Pode-se dizer,
assim, que as rochas, minerais, fósseis e feições topográficas com seus aspectos
específicos correspondem a "arquivos de uma grande biblioteca" que retrata a
História de nosso Planeta.
Certas ocorrências
geológicas são muito especiais e importantes porque registram a origem e
evolução da Terra naqueles locais e que podem ser correlacionados com locais de
outros países ou porque apresentam aspectos estéticos excepcionais como belas
paisagens por exemplo. São os SÍTIOS GEOLÓGICOS que merecem/devem ser PRESERVADOS.
Entretanto, muitas
rochas e feições
geológicas com interesse científico e/ou que apresentam beleza natural, como as
cavernas, os locais com fósseis (restos de seres ou de indícios indicando a evolução da vida na
Terra),.. são, com freqüência, destruídas pela ganância e incompetência do
Homem em preservá-las dentro de nossa sociedade atual consumista e
imediatista. Por exemplo, nas cavernas formadas por dissolução de rochas
carbonáticas formam-se estruturas cônicas a colunares, métricas a
decamétricas denominadas estalactites e estalagmites; são desenvolvidas com o
lento e continuado gotejamento seguido de evaporação de água rica em sais
dissolvidos que vem por fendas, precipitando carbonato de cálcio no teto e no
chão da caverna. O estudo científico de tais feições, incluindo a análise
de isótopos de C e de O, permite, junto com o estabelecimento de idades dessas
estruturas e outras determinações, estabelecer com bastante segurança quais
as condições climáticas reinantes na região há milhares de anos e
confrontá-las com aspectos da fauna e flora (fósseis) então existentes e,
assim, através de estudos comparados de várias regiões e do mundo todo,
estabelecer importantes traços sobre a evolução de clima e da vida na terra,
incluindo as nossas origens como seres humanos. De forma semelhante a
destruição de nossos ricos patrimônios paleontológicos, como o da Chapada do
Araripe, com fósseis sendo muitas vezes descaracterizados e espalhados para
venda para turistas, vem, certamente, prejudicando estudos sobre as espécies de
peixes, tartarugas e outros inúmeros animais que então existiam. (Acesse os
Sítios Espeleológicos no para ver algumas de nossas cavernas
brasileiras e suas feições características e os
Sítios Paleontológicos para
ver fósseis)
Para evitar a perda de nosso rico patrimônio geológico, a SIGEP - Comissão de Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil, dentro da linha programática da Unesco de preservação do patrimônio natural da humanidade, está promovendo a catalogação e descrição de sítios brasileiros que podem ser vistos neste site:
que tem, portanto, características dinâmicas de Data Bank, comportando acréscimos de novos sítios e atualizações ou correções dos já descritos.
Cada sítio é selecionado a partir de um formulário obtido na internet em página que contém as diretrizes para seu preenchimento e os proponentes que se candidatam a descrevê-lo devem, necessariamente, tê-lo estudado com critérios científicos e buscar a colaboração de outros pesquisadores que porventura tenham estudado o mesmo sítio ou a geologia da área do sítio com o enfoque tipológico.
Os sítios já selecionados
e publicados podem ser acessados em
sitios
ou via mapa-índice do
Brasil com os "pontos" dos sítios.
REF. Winge,M. 1999. O que é um sítio geológico?. In: Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil, SIGEP. Publicado na Internet em: https://sigep.eco.br/apresenta.htm
SÍTIOS GEOLÓGICOS E PALEONTOLÓGICOS DO BRASIL
Buscando evitar o "geologuês" para que pessoas não formadas na área possam acompanhar e auxiliar neste esforço que está sendo feito de preservar o nosso patrimônio natural, serão apresentadas algumas das descrições já efetuadas, mas com linguagem mais acessível. Assim como ocorre com os artigos científicos, tais descrições poderão vir a ser publicadas em livro, caso se configure a sua necessidade pela SIGEP.
1- VER Pre prints:
UM DESERTO ANTIGO DO BRASIL
Por: Augusto J. Pedreira
A CHAPADA DOS DIAMANTES-Serra do Sincorá, Bahia
Por:
Augusto
J. Pedreira
Ossos de Animais Pré-Históricos de 120 Mil Anos nas Barrancas do Arroio Chuí -
RS
Por: Renato Pereira Lopes, Francisco Sekiguchi de Carvalho Buchmann, Felipe
Caron, Maria Elisabeth Gomes da Silva Itusarry
Estromatólitos de Nova Campina e Itapeva, SP - Registros de vida primitiva com
um bilhão de anos
Por:William Sallun Filho; Thomas Rich
Fairchild; Fernando Flávio Marques de Almeida; Daniel Rodrigues de França
2 - VER ESSAS DESCRIÇÕES REVISADAS: capítulos publicados no VOLUME III
Veja mais sobre Geologia em:
O que é GEOLOGIA ? => Veja no 1o site do Instituto de Geociências da UnB mais informações: https://mw.eco.br/ig/cursos/index.htm#IV