UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA 
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

Disciplina: Petrologia metamórfica
Notas de aula do Prof. Manfredo Winge

© Winge,M. 1996. Petrologia metamórfica - Notas de aula. Publicado na Internet . 
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PETROLOGIA METAMÓRFICA

1. CONCEITO
2. ROCHAS METAMÓRFICAS E TIPOS DE METAMORFISMO
3. AS VARIÁVEIS DO METAMORFISMO
4. GRAU DE METAMORFISMO E ZONEOGRAFIA DE TERRENOS METAMÓRFICOS
4.1. Isógradas e as zonas de Barrow
4.2. Fácies metamórficas
4.3. Séries de fácies metamórficas 

1. CONCEITO

    A petrologia metamórfica é a parte da geologia que tem por objetivo estudar as rochas transformadas textural, estrutural, química e/ou mineralogicamente  e estabelecer a relação de causa e efeito entre as transformações observadas e processos geológicos, buscando-se definir temporalmente, quimica e termodinamicamente a natureza dos eventos associados. Por definição, o escopo do estudo do metamorfismo limita-se às transformações das rochas realizadas no estado sólido ou predominantemente sólido e excluídas as transformações por anatexia (fusão ou refusão de rochas) nas condições mais severas, por um lado,  e  por diagênese e intemperismo, nas condições superficiais da crosta terrestre, por outro lado.  
    A petrologia metamórfica objetiva, assim, determinar, a partir do estudo dos minerais, química, textura e estrutura atuais, qual a rocha original (protólito), qual o seu ambiente gerador e quais os processos geológicos envolvidos em sua origem e transformação, hierarquizando-os no tempo e no espaço para correlações locais e regionais.
    A crosta da Terra, incluindo as áreas oceânicas, apresenta, em sua parte superficial, rochas metamórficas predominantes o que demonstra a importância desta disciplina que versa sobre a transformação das rochas.

2. ROCHAS METAMÓRFICAS E TIPOS DE METAMORFISMO

    As rochas metamórficas (grego: meta=mudança; morfos=forma) correspondem a transformações predominantemente no estado sólido de rochas pré-existentes ou PROTÓLITOS (grego: proto=primeiro/anterior; lithos=rocha). Os protólitos podem ser ígneos, sedimentares ou, mesmo, metamórficos. Em casos mais raros e nem sempre fáceis de serem determinados, podem, ainda, corresponder a produtos de alteração intempérica (solos, paleossolos, lateritas,..) ou hidrotermal/metassomática (greisen, skarnitos, pegmatitos caulinizados,..). Em locais privilegiados,  como antigas suturas crustais, pode ocorrer fragmento mantélico como protólito.
    Apesar de, por definição ou para efeito pedagógico, tratarmos o metamorfismo como um processo geológico isoquímico, ou seja a rocha original não sofre mudança química, na realidade as transformações metamórficas implicam, sempre, em modificações químicas, desde mínimas ou em escala limitada, até muito importantes quando deixamos de designar a rocha como metamorfito e passamos a designá-la como metassomatito (meta= mudança; soma= substância/matéria).
    Como visto atrás, por definição, os estudos de PETROLOGIA METAMÓRFICA não se envolvem diretamente com os processos superficiais de intemperismo e diagênese (áreas da pedologia e da sedimentologia), nem com os processos profundos de anatexia ou refusão das rochas (área da petrologia ígnea), distinguindo-se os seguintes tipos ou processos metamórficos principais cuja caracterização é fundamental para a classificação correta da rocha em estudo: 

    A evolução geotectônica de uma área continental geralmente é complexa, com superposição de tipos de metamorfismo diferentes e, inclusive, com superposição de ciclos geológicos do mesmo tipo de metamorfismo, caracterizando-se o polimetamorfismo dessas rochas. Assim, uma rocha metamorfizada por metamorfismo regional em baixo grau pode ter sido, posteriormente, intrudida por um corpo magmático cujo calor produziu auréolas metamórficas, registrando-se dois tipos diferentes de metamorfismo. O registro destas transformações em paragêneses, texturas e estruturas, e a elucidação da sequência em que se realizaram, permite estabelecer parte da história geológica local.
   
Cada ambiente geológico/geotectônico apresenta associações de rochas que lhe são típicas ou mais comuns e, em certos casos, características. O metamorfismo dessas rochas associadas pode, assim, levar a um padrão de rochas metamórficas associadas. Por exemplo, as rochas de uma crosta oceânica onde predominam basaltos e gabros, com níveis de radiolaritos e outros sedimentos pelágicos, metamorfizada junto a ridge com muita pressão de água e depois tomada em ambiente orogênico ou de arco de ilha apresentará uma associação provável de xistos verdes (básicos) e anfibolitos com finas camadas de chert. Uma sequência de camadas de bacia de margem continental passiva apresenta associações relativamente espessas de rochas clásticas maduras associadas com niveis carbonatados; ao ser envolvida esta(s) bacia em um processo orogênico, como o de colisão continental, a sequência rochosa será transformada em quartzitos, xistos aluminosos e mármores ou calcários metamórficos.
    Caracteriza-se, desta forma, a importância do estudo regional da geologia de regiões metamórficas para ser estabelecida a associação rochosa metamorfizada e, com isto, se ter suporte para determinar o ambiente geológico primordial e os ambientes transicionais da região.

3. AS VARIÁVEIS DO METAMORFISMO

    Modificações significativas das condições termodinâmicas ou das condições geoquímicas originais da rocha levam a sua transformação. As variáveis ou fatores fundamentais do metamorfismo são :

    A velocidade com que se realiza esta transformação (cinética) depende ainda de outros fatores intrínsecos e extrínsecos, tais como:

    Assim, uma intrusão magmática com temperatura muito elevada, mas aplicada em breve espaço de tempo (como um sill pouco espesso de basalto por exemplo) poderá resultar em menos transformações metamórficas do que uma intrusão de temperatura menor mas realizada por longo tempo geológico (como um batolito granítico por exemplo) porque o calor transferido para a rocha encaixante não foi suficiente para desestabilizar a paragênese mineral na mesma intensidade. Já uma rocha com textura fina é mais suscetível a transformações metamórficas do que uma de mesma composição química mas com minerais bem desenvolvidos, porque ela apresenta uma maior superfície entre cristais, ou seja, com mais energia iônica livre e, por isso, mais reativa do que a rocha com minerais graúdos que estão solidamente estruturados com sua rede cristalina organizada (menor entropia).

4. GRAU DE METAMORFISMO E ZONEOGRAFIA DE TERRENOS METAMÓRFICOS

4.1. Isógradas e as zonas de Barrow

    Qualquer tipo de metamorfismo, seja cataclástico, de contato, regional,..pode ser classificado pela sua intensidade verificada nas rochas em grau fraco, médio e forte. Alguns tipos de metamorfismo podem ter variações rápidas desse grau, como, por exemplo, o de falhas e o de impacto meteorítico; outros, como o de contato e o regional apresentam uma variação gradual que permite o mapeamento do grau de metamorfismo.  Destacam-se as auréolas de metamorfismo de contato e, principalmente, as variações de grau em cinturões metamórficos orogênicos em zonas de mesmo metamorfismo. Barrow (1893,1912, in Spear,1993), estudando o cinturão Dalradiano nas terras altas da Escócia, verificou a existência de zonas de metamorfismo progressivo identificadas pelo aparecimento de minerais-índices de grau metamórfico em rochas aluminosas, meta-pelíticas, a saber: clorita=>biotita=>granada=>estaurolita=>cianita=>sillimanita. Estas zonas (zonas de Barrow) são caracterizadas pelo aparecimento do mineral índice que, entretanto, pode se manter em associação em zonas metamórficas de mais alto grau. Por exemplo, o aparecimento da biotita metamórfica indica a passagem da zona da clorita para a da biotita e o aparecimento da granada indica a passagem da zona da biotita para a da granada, mas a clorita pode ocorrer nas tres zonas e a biotita pode continuar aparecendo até a zona da cianita e parte da zona da sillimanita. A superfície do limite zoneográfico determinado pelo aparecimento do mineral índice foi designada de isógrada por Tilley (1924,1925, in Spear,1993) que realizou estudos na mesma região da Escócia que Barrow.

4.2. Fácies metamórficas

    O conceito de fácies metamórfica corresponde a uma ampliação do conceito de zonas metamórficas. Foi proposto por Eskola (1914,1915, in Spear,1993) que, ao comparar auréolas metamórficas de duas intrusões distintas da Finlândia e da Noruega, verificou que diversas rochas apresentavam associações minerais típicas iguais em zonas metamórficas correlatas. Eskola atribuiu às fácies assim determinadas o nome de rochas típicas para caracterizar cada fácies, tais como como fácies albita epidoto hornfels, fácies honblenda hornfels, fácies anfibolito.. De acordo com Turner(1981), "Fácies metamórfica é um conjunto de associações minerais, repetidamente associado no espaço e no tempo, de tal maneira que há uma relação constante e previsível entre composição mineral e composição química total da rocha." 
    O conceito de fácies metamórficos relaciona-se, assim, a determinadas condições de metamorfismo realizadas dentro de faixas de P e T próprias de determinados ambientes geotectônicos e que propiciam a cristalização de minerais metamórficos em várias paragêneses que são características de cada tipo de rocha original metamorfizada.

4.3. Séries de fácies metamórficas

    Miyashiro (1961) verificou a existência, no Japão, de associação de cinturões de rochas metamórficas em pares, apresentando distintas associações litológicas e, associadamente, distintas paragêneses próprias de gradientes geotérmicos bem distintos para cada tipo de cinturão do par: enquanto um cinturão apresenta minerais que retratam alta P com relação a T, como glaucofano e jadeita, o outro apresenta minerais de alto gradiente geotérmico com andalusita e cordierita. O primeiro tipo, de alta pressão, designado de Sanbagawa, tem associaçãoes litológicas como xistos azuis e eclogitos que indicam rochas de crosta oceânica (meta-basaltos, meta-gabros, meta-radiolaritos e porções de peridotitos mantélicos); já o segundo, de alta T/P, apelidado de Abukuma, apresenta associações de xistos de origem pelítica, quartzitos, gnaisses, migmatitos e granitos predominantes, mais característicos de crosta continental. Cada um desses cinturões apresenta uma zoneografia metamórfica própria com fácies e minerais índice tambem próprios, o que levou Miyashiro a propor o conceito de Séries de fácies uma de baixo gradiente geotérmico ou de alta pressão (>8 e < 25o/km) e outra de alto gradiente geotérmico ou baixa pressão (>25o/km). O cinturão Dalradiano, estudado por Barrow e muitos outros, corresponde, a uma série intermediária, batizada de Barroviana.

5. REAÇÕES METAMÓRFICAS

    Uma rocha submetida a condições termodinâmicas diversas das em que se constituíram os seus componentes, pode apresentar reações entre os seus minerais, originando novos minerais estáveis a essas novas condições. Estas reações, realizadas no estado sólido, seguem as regras químicas do balanço estequiométrico tendo de um lado da equação os minerais reagentes e de outro os minerais produto. Adicionalmente as fases sólidas, um componente crucial na maior parte destas reações é a fase fluida que permeia os grãos minerais e suas clivagens e fissuras, estabelecendo-se como uma ponte nas trocas catiônicas, simplesmente como catalisador, como reagente e/ou como produto da reação. H2O e CO2 são as duas fases fluidas mais comuns nas reações metamórficas e acima de condições supercríticas a atividade química desses fluidos é muito elevada.


CLASSIFICAÇÃO E NOMENCLATURA DAS ROCHAS METAMÓRFICAS

1. BASES PARA A CLASSIFICAÇÃO
2. CLASSIFICAÇÃO OU DESIGNAÇÃO COM CRITÉRIO COMPOSICIONAL IMPORTANTE
    2.1. Termos-base
   
2.2. Uso de nomes de minerais metamórficos antes do termo base
   
2.3. Uso de nomes após o termo base, adjetivando-o.
3. CLASSIFICAÇÃO COM CRITÉRIO "TIPO DE METAMORFISMO" IMPORTANTE
    3.1. Rochas que sofreram metamorfismo dinâmico
   
3.2. Rochas que sofreram metamorfismo de contato predominante
   
3.3. Rochas que sofreram metamorfismo meteorítico ou de impacto predominante
   
3.4.Rochas que sofreram metamorfismo regional predominante
4. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ORIGEM
   
4.1. Uso do prefixo META (indicação do protólito)
   
4.2. Uso do nome do protólito com sufixo indicativo da rocha metamórfica
   
4.3. Uso dos prefixos ORTO e PARA


1. BASES PARA A CLASSIFICAÇÃO

     As rochas metamórficas são designadas, em geral, por um termo base ao qual podem, e em certos casos devem, ser agregados outros termos antes e/ou após este termo base.
   
Na bibliografia é rara a indicação de regras para a designação das rochas metamórficas havendo, inclusive, controvérsias a respeito de certos termos. Isto é compreensível pois a designação/determinação das rochas metamórficas envolve conceitos poligenéticos, não só os da rocha original, com química, texturas e estruturas variavelmente preservados, como os da evolução transformacional propiciada pelos vários eventos metamórficos.
   
Essa complexidade evolutiva pode levar mesmo a formação de rochas semelhantes a partir de protólitos completamente distintos - Ex.g. gnaisse originado de um pelito e gnaisse derivado de um granito, enquanto que, por outro lado, rochas muito diferentes podem ser formadas a partir do mesmo protólito, dependendendo dos fatores de metamorfismo envolvidos, notadamente T, P litostática, P stress ou dirigida, P fluidos (e sua química).. - Ex.g. xisto azul, xisto verde, anfibolito, eclogito.. derivados de basalto.
    As rochas metamórficas são classificadas e designadas de acordo com vários critérios, notadamente os que envolvem a rocha de origem, a composição - química ou mineral - da rocha, o tipo e grau de metamorfismo e aspectos texturais/estruturais metamórficos
   
Deve se ter em mente que as rochas metamórficas ocorrem sempre com variações laterais e verticais que podem ser bastante bruscas - seja devido as variações originais da composição do protólito seja devido a variabilidade de tensões, fluidos, etc.. relacionados aos processos metamórficos impostos e superimpostos as rochas transformadas.
    Cabe destacar que o ato de aportuguesar-se nomes de rochas e de minerais que tem por radical um nome próprio (pessoa, localidade, país..) é injustificável por criar, desnecessariamente, novos termos os quais, ainda por cima, não têm nenhum significado, como, por exemplo: kimberlito para quimberlito, scheelita para xilita,...

2. CLASSIFICAÇÃO OU DESIGNAÇÃO COM CRITÉRIO COMPOSICIONAL IMPORTANTE

2.1. Termos-base

    A seguir são relacionadas várias rochas metamórficas em que o critério composicional é importante na sua designação, mas não necessariamente o único:

ANFIBOLITO - derivado de rochas básicas ou de rochas sedimentares como calcários impuros; tem a hornblenda e o plagioclásio como paragênese característica de grau metamórfico médio a alto. Pode se apresentar maciço, bandado ou mais comumente com lineação.

ARDÓSIA - grau metamórfico muito baixo; granulação muito fina, pouco brilho, cristalinidade baixa, clivagem ardosiana, ausente ou muito subordinada a segregação metamórfica de quartzo ou carbonatos em charneiras ou em bandas. O protólito geralmente é pelítico e paragênese a base de quartzo, sericita/fengita, clorita, pirofilita,.. Com aumento de metamorfismo regional transforma-se em filito e xisto.

ECLOGITO - rocha básica, basalto ou gabro, que sofreu metamorfismo da fácies eclogito, típica de duplicação crustal com pressões maiores do que 10 kbar (>30 km de crosta sobrejacente) e temperaturas variáveis que podem chegar aos 1.000o C, transformando-se em uma rocha, geralmente granoblástica, cujos componentes são as fases minerais estáveis às altas pressões e temperaturas: piroxênio sódico, onfacítico, e granada magnesisna, piropo.

ESTEATITO ou PEDRA-SABÃO - rocha composta essencialmente por talco ao qual podem se agregar magnesita e quartzo. É derivada principalmente de rochas ígneas ultramáficas.

FILITO - rocha intermediária entre ardósia e xisto na evolução metamórfica de pelitos.Diferentemente da ardósia, o plano de xistosidade é bem definido e brilhante determinado pela disposição de mica muscovítica

GNAISSE - rocha cujos componentes mineralógicos essenciais são quartzo e feldspato metamórficos e com estrutura foliada maciça com achatamento dos grãos ou em bandas quartzo-feldspáricas alternadas com bandas mais máficas

GONDITO - rocha metamórfica cujos componentes principais são a granada manganesífera (espessartita) e o quartzo; deriva fundamentalmente de camadas de chert associado com vulcanismo.

ITABIRITO - descrita em Itabira, MG, o itabirito é uma rocha bandada, alternando níveis milimétrico/centimétricos de hematita (magnetita) com níveis silicáticos, geralmente de quartzo.

MÁRMORE - calcário recristalizado metamórficamente tendo como constituinte importante (>50%) um carbonato, geralmente calcítico ou dolomítico. Ocorre em várias fácies: maciço, bandado, brechóide...

QUARTZITO - metamorfito cujo componente principal é o quartzo (>75% como ordem de grandeza). Pode derivar de arenitos quartzosos, riolitos silicosos, chert, pods ou veios de quartzo..

ROCHA CÁLCIO-SILICATADA - rocha maciça ou bandada composta por minerais cálcio-silicáticos metamórficos como epidoto, diopsídio, grossulária, escapolita... derivada de mármores impuros e/ou metassomatizados.

SERPENTINITO - rocha composta por serpentina predominante, pode ser maciça ou xistosa caso em que pode ser chamada de serpentina xisto
À semelhança do serpentinito ocorrem várias rochas metamórficas maciças com tendência monominerálica em que o mineral predominante, metamórfico, dá o nome a rocha, como:
CLORITITO, ACTINOLITITO, TREMOLITITO, EPIDOSITO..
Observação:
alguns termos como HORNBLENDITO, PIROXENITO, PERIDOTITO entre outros são reservados para rochas ígneas.

TACTITO ou SKARNITO - rocha cálcio-silicática que sofreu metamorfismo e/ou metassomatismo de contato.

XISTO - termo geral para qualquer rocha que apresenta xistosidade. Como acontece com muitas outras rochas metamórficas, a este termo devem ser agregados termos antecedentes e/ou termos sucedentes que caracterizem, composicionalmente, o metamorfito. Ex.g. granada biotita xisto grafitoso. O xisto micáceo deriva, frequentemente, de pelitos (podem derivar de plutonitos e vulcanitos ácidos e aluminosos também) representando um grau mais elevado de metamorfismo do que a ardósia e o filito; muito brilhante devido ao crescimento de micas metamórficas, muscovita e biotita principalemente, xistosidade bem desenvolvida, muitas vezes crenulada por deformações superimpostas, segrega quartzo (ou carbonatos nos xistos calcíticos) em bandas ou concentrado em charneiras de dobras isoclinais, formando barras ou lentes centi-decimétricas no meio da massa micácea.

XISTO VERDE - termo especial para designar xisto derivado de rocha máfica, em condições de baixo grau formando minerais verdes como: actinolita, epidoto, clorita.. junto com albita e algum quartzo..

XISTO AZUL - termo especial para designar xisto derivado de rocha máfica, em condições de baixa temperatura e alta pressão, caracterizando crosta oceânica colisionada com minerais azuis como o anfibólio sódico glaucofano além de lawsonita, epidoto, clorita,..

2.2. Uso de nomes de minerais metamórficos antes do termo base

    A classificação de uma rocha metamórfica exige, muitas vezes, a utilização de nomes de minerais para a sua perfeita caracterização. Esta necessidade se dá tanto para definir composicionalmente quanto metamorficamente a rocha. Assim, por exemplo, uma rocha pode ter somente 1% de sillimanita, mas a importância do mineral como indicador de condições metamórficas exige o seu nome antes do termo base (Ex.g. sillimanita gnaisse).
    Vários nomes de minerais podem anteceder, assim, o nome da rocha para a sua perfeita classificação, seguindo-se como regra que os nomes dos minerais mais próximos do nome da rocha correspondem às fases que ocorrem em maior abundância. Por exemplo: uma rocha classificada como cordierita granada biotita muscovita xisto contem mais muscovita que biotita, mais biotita que granada e mais granada do que cordierita.
    Naturalmente que não são usados nomes de minerais em rochas que já os tem como característicos de sua composição. Por exemplo: hornblenda e plagioclásio em anfibolito; quartzo, até 40 %, em xistos micáceos,..

2.3. Uso de nomes após o termo base, adjetivando-o.

    Não há regra rígida no uso destes termos que sucedem o nome principal da rocha. Entretanto, o seu uso retrata, muitas vezes, teores menores mas que devem ser realçados tanto para a caracterização mineralógico-petrográfica quanto química e que podem ter implicações genéticas. Veja os exemplos que seguem:

Metachert manganesífero
Gnaisse granodiorítico
Xisto máfico
Xisto feldspático
Micaxisto granatífero
Xisto calcítico
Xisto grafitoso

3. CLASSIFICAÇÃO COM CRITÉRIO "TIPO DE METAMORFISMO" IMPORTANTE

3.1. Rochas que sofreram metamorfismo dinâmico

CATACLASITO - rocha de metamorfismo dinâmico ou cataclástico em que os componentes minerais tiveram comportamento (reologia) predominantemente rúptil ou quebradiço durante a ação metamórfica, favorecendo a geração de textura com grãos minerais quebrados em grãos menores (sub-grãos), rotacionados, encurvados,.. e com crescimento metamórfico muito limitado ou inexistente.

FILONITO - filonito é um milonito estrutural e mineralogicamente semelhante a filito do metamorfismo regional

MILONITO - (to mill= moer) - rocha com grãos triturados (ver Fotomicrografia) mas, diferentemente do cataclasito, ocorrem componentes minerais como clorita, sericita.. que sofreram deformação dúctil, ficando estirados e achatados muitas vezes definindo uma foliação milonítica. A formação de cataclasito ou milonito é comandada pelas propriedades reológicas da rocha que varia, também, com a menor ou maior pressão de H2O (A rocha anidra é geralmente mais quebradiça)..

BLASTOMILONITO -rocha polimetamórfica que já foi um milonito mas que hoje encontra-se, em grande parte, recristalizada, seja por metamorfismo de contato, seja por metamorfismo regional.

    Os prefixos PROTO E ULTRA para os termos CATACLASITO e MILONITO referem-se, respectivamente, a percentagem menor (10-50%) e maior (>90%) de matriz quebrada/triturada da rocha.

3.2. Rochas que sofreram metamorfismo de contato predominante

HORNFELS ou CORNUBIANITO - rocha com aspecto/textura de chifre, sem orientação preferencial, textura fina e de grãos engranzados, muitas vezes poiquiloblástica e que ocorre nos contatos metamorfizados por intrusões que ascenderam muito quentes.

TACTITO ou SKARNITO - rocha cálcio-silicática que sofreu metamorfismo e/ou metassomatismo de contato.

3.3. Rochas que sofreram metamorfismo meteorítico ou de impacto predominante

IMPACTITO - rocha formada pelo metamorfismo de impacto de meteoros com texturas e estruturas típicas e com mineralogia característica de muito alta temperatura como coesita, stishovita, mullita e vidro..

3.4.Rochas que sofreram metamorfismo regional predominante

    Em termos de extensão, como o próprio nome diz, as rochas de metamorfismo regional são as mais importantes nas áreas continentais. Muitas das rochas citadas atrás são de metamorfismo regional ou dínamo-termal. Uma série típica de evolução de graus mais baixos para mais altos neste tipo de metamorfismo é a das rochas pelíticas conforme indicada abaixo:

ardósia =>filito => xisto => ganisse =>migmatito ou granulito ácido

GRANULITO - rocha de alto grau metamórfico cuja designação é a mesma da fácies metamórfica regional de alta temperatura, elevado grau geotérmico (T/P) e condições anidras (Pcarga>>>PH2O). A classificação da rocha exige a sua caracterização composicional (Ex.g.: granulito ácido; granulito diorítico, granulito ultramáfico.. Existem termos específicos (ver glossário) para algumas fácies, como leptinito, charnockito, enderbito, São rochas granoblásticas, maciças a foliadas, granulação variável de muito fina (leptinitos, por exemplo) até muito grossa (alguns charnockitos, por exemplo)

4. CLASSIFICAÇÃO QUANTO À ORIGEM

4.1. Uso do prefixo META (indicação do protólito)

    Quando se tem certeza da rocha de origem, pode-se usar o prefixo META para designar a rocha metamórfica. Exemplos: 

    Observar que o uso do prefixo meta não caracteriza o grau nem a textura e estrutura metamórficos da rocha. Este critério de designação é muito comum em terrenos anquimetamórficos ou de baixo grau onde as rochas originais estão mais bem preservadas.

4.2. Uso do nome do protólito com sufixo indicativo da rocha metamórfica

    Alem do prefixo meta, usa-se indicar o nome da rocha original sucedido por termos que indicam a rocha metamórfica atual. Ex:  granito gnaisseficado; gabro anfibolitizado.. Estas designações implicam em reconhecimento seguro do protólito, muitas vezes devido ao fato de que o metamorfismo não foi pervasivo ou foi parcial na rocha.

4.3. Uso dos prefixos ORTO e PARA

    Os prefixos ORTO e PARA antecedem o termo base que identifica a rocha metamórfica (Ex.g. orto-anfibolito, para-gnaisse..) e o uso deles implica em uma identificação genética segura da rocha de origem com o seguinte critério:


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PETROGRAFIA DE ROCHAS METAMÓRFICAS

DESCRIÇÃO DE AMOSTRAS

    A descrição de amostras, assim como a descrição de afloramentos, deve ser simples e clara, evitando-se têrmos rebuscados.
   
O uso de frases curtas facilita a tarefa de descrição de amostras.
    É frequente nas descrições de lâminas delgadas ou de seções polidas a utilização de abreviaturas ou de frases "telegráficas", diminuindo o esforço de escrita e o espaço usado para a descrição. Em contrapartida, a descrição pode se tornar incompreensível para outros e até para o próprio autor passados alguns anos. Para superar este problema, é interessante que se tenha uma mesma lista de abreviaturas para toda a equipe do projeto de pesquisa ou, de preferência, uma lista de uso mais universal.
   
Desenhos esquemáticos -sempre com escala (mesmo que aproximada)- facilitam a visualização do que está sendo descrito.
    Reporte-se ao formulário sugerido para descrição de amostras e lâminas delgadas de rochas metamórficas:

DADOS DE LOCALIZAÇÃO EM AFLORAMENTO E MACROSCOPIA

    Elementos de informação de campo, como relações com outros litofácies no mesmo afloramento ou próximo, posição estrutural/estratigráfica... da amostra coletada podem se revelar muito úteis para o próprio estudo petrológico e para quem for utilizar a análise petrográfica posteriormente. (Não se faz geologia de campo sem petrografia e vice versa).
    Normalmente, poucas palavras situando a amostra são suficientes (Ex. amostra de banda quartzo-feldspática de migmatito flebítico coletada em charneira de antiforme decimétrica,..)
    Na descrição macroscópica das amostras devem ser, enfatizadas as estruturas e texturas visíveis a olho nu e a lupa de bolso e como ocorrem, principalmente, se definirem o relacionamento cronológico entre elas o que deve ser descrito/desenhado já neste tópico em termos de macroscopia. Caracterizar as descontinuidades (S e L), penetrativas e não-penetrativas estabelecendo a cronologia em S1, S2, S3.. e L1, L2, L3.. e seu significado físico como xistosidade, clivagem, bandas, lineação mineralógica, lineação de estiramento.. Associadamente, devem ser caracterizados os minerais e sua distribuição na amostra; a cor da rocha fresca e de porções alteradas; a granulação dos minerais ou de agregados minerais, as dimensões de elementos estruturais como bandas, lentes, boudins,.. e, se couber, dureza, brilho, densidade.. anômalos que possam ser identificados.
Exemplos de descrição:

a-Xisto de coloração prateada com excelente xistosidade microcrenulada. Bandas milimétricas de quartzo/muscovita (segregação metamórfica?; estratificação S0?) alternam-se com bandas mais micáceas a stilpnomelano (microssonda), clorita com xistosidade Sn paralela às bandas.

b-Rocha maciça de granulação fina. Anfibólios milimétricos levemente orientados concentram-se segundo lineação mal definida dentro de massa diopsídio- anfibólio-plagioclásica verde clara a creme que apresenta bandamento milimétrico a centimétrico inconspícuo

COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA COM PERCENTAGEM ESTIMADA

    Devem ser relacionados todos os minerais identificados, sempre com uma estimativa de percentagem volumétrica, mesmo que grosseira, visto que esta percentagem dá uma idéia da composição da rocha e da importância relativa de cada mineral.
    Quando não se consegue identificar um ou mais minerais pode ser atribuido um apelido temporário (mineral x, y,z..) até a sua identificação e as sua localização na lâmina, suas propriedades óticas e outras informaçòes relevantes devem ser fornecidas na ficha de análise petrográfica.
    A sensibilidade apreciativa de um petrógrafo aumenta com a prática. As figuras abaixo representam variações percentuais de contraste entre minerais escuros e claros. Em casos especiais deve ser feita contagem de pontos ou outra mais precisa.

 

    Quando um mineral é alterado em outro(s), convém relacionar o mineral alterado e sua alteração juntos, conforme os exemplos a seguir:

Plagioclásio saussuritizado = 10%
Plagioclásio fresco (andesina) = 30%
Cordierita (?) totalmente pinitizada = 8%

TEXTURA (DESCRIÇÃO GERAL) E VARIAÇÕES TEXTURAIS

    A textura e as variações texturais da rocha conforme identificadas na lâmina (por vezes com apoio da macroscopia) devem ser registradas de forma sintética e, no verso, desenhadas de forma esquemática, com idéia de escala, para permitir uma imediata visualização do arranjo dos grãos minerais da amostra. Detalhes texturais próprios de uma ou outra espécie mineral e que não tenham alcance ou significado geral são melhor descritas junto as Observações microscópicas descrevendo os diversos minerais (a seguir).
Exemplos de descrição textural:

a-Textura granoblástica média bimodal submilimétrica (diopsídio) a milimétrica (plagioclásio). Contatos retilíneos com junções poliedrais tríplices em 120o e localmente serrilhados.
b-Textura nematoblástica fina a média. Anfibólios levemente poiquiloblásticos
c-Bandas micáceas lepidoblásticas submilimétricas alternadas com bandas quartzofeldspáticas granoblásticas milimétricas em conjunto crenulado. Porfiroblastos poiquiloblásticos milimétricos de granada e estaurolita dispersos e cortando a foliação

OBSERVAÇÕES MICROSCÓPICAS DESCREVENDO OS DIVERSOS MINERAIS

    Sob este ítem devem ser descritos detalhadamente os diversos minerais que apresentam importância para o estudo petrológico da rocha. Aspectos mineralógico-texturais inter e intragranulares e a inter-relação entre os diversos minerais são detalhados e desenhados neste tópico. Evitar a mera relação das propriedades óticas normais e esperadas do mineral em descrição ("quartzo apresenta-se uniaxial", por exemplo).
Entre outros aspectos, descever neste ítem:
-a distribuição do mineral na rocha com as suas variações dimensionais (em bandas, em gradações, envolvendo grãos maiores...); a maior ou menor euedria do mineral; as zonações; as estruturas intragranulares e suas relações com outros minerais (simplectíticas; poiquiloblásticas; de alteração..)
-propriedades óticas anômalas que o mineral porventura apresenta;
-processos de alteração e de reação, com ou sem pseudomorfose, indicando-se os minerais reactantes e os minerais produtos;
-relações texturais de grãos do mesmo mineral (como junções tríplices de recristalização -"recuperação"- de subgrãos cataclásticos do mesmo cristal) e com grãos de outros minerais. Indicar qual mineral engloba qual e se os contatos são serrilhados, em baía, retilíneos..
-veios, vênulas,..
-fase ou fases de cristalização a qual se relaciona o mineral e aspectos inerentes (pré, sin ou pós-tectônico).
Note-se que é a partir destas observações detalhadas é que poderão ser estabelecidas as sequências de cristalização ou as paragêneses minerais "congeladas" na rocha e, consequentemente, a evolução petrogenética da rocha em estudo

SEQUÊNCIA CRONOLÓGICA DE EVENTOS

    Já como uma conclusão dos estudos das feições macro e microscópicas da amostra (inclusive as registradas em afloramento), bem como a relação delas com eventos geológicos, essas feições devem ser listadas sinteticamente da mais antiga para a mais jovem, de maneira a fornecer um quadro sumário da petrogênese.

Exemplo de descrição sintética da sequência de eventos:
1-bandas e xistosidade paralelas à estratificação: S1//S0 (?)
2-crenulação e clivagem (S2): lineação L2 (muscovita estirada)
3-granada pós-tectônica (Si=Se crenuladas com a mesma intensidade) em porfiroblastos; crescimento estático
4-biotita pós-granada (bordas e fraturas) e mimética sobre clorita (?) da S1 e também em porfiroblastos
5-cloritização localizada (clorita II) sobre granada e biotita (clorita com agulhas de rutilo)

PROTÓLITO

    Nem sempre é possível identificar a rocha original que foi metamorfizada (geralmente por falta de elementos de campo). Entretanto, a associação de rochas no campo e a associação mineral identificada em lâmina permitem, muitas vezes, indicar possíveis ou mais prováveis protólitos, como por exemplo:

-Rocha original: ultramáfica? - calcário dolomítico silicoso?
-Rocha original: grauvaca? - tufo andesítico?

FÁCIES METAMÓRFICO

    Indicar o grau metamórfico maior e o tipo de metamorfismo sofrido pela rocha. Em caso de polimetamorfismo, retratá-lo de maneira sintética com relevância para os eventos que mais afetaram a amostra, lembrando que na lista de eventos já deveriam ter sido detalhadas todas as fases de metamorfismo. Exemplos:

-Fácies metamórfico: epidoto anfibolito de baixa pressão
-Fácies metamórfico: granulito com parcial retrometamorfismo: (1) para anfibolito e (2) para xisto verde
-Fácies metamórfico: anfibolito totalmente retrometamorfizado para xisto verde (filonitização em zona de falha)

CLASSIFICAÇÃO

    Indicar o nome mais indicado que classifique a rocha. Entre parênteses, pode-se apresentar classificação complementar. Exemplos:

-Biotita quartzo anfibolito (meta-andesito)
-Granada-estaurolita micaxisto grafitoso(meta-pelito)
-Meta-basalto (basalto com uralitização total e saussuritização parcial)


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TEXTURAS E ESTRUTURAS DE
ROCHAS METAMÓRFICAS

1. CONCEITOS
2. CLASSIFICAÇÃO DE TEXTURAS E ESTRUTURAS COM RELAÇÃO AO EVENTO METAMÓRFICO
3. TEXTURAS E ESTRUTURAS METAMÓRFICAS E A REOLOGIA DAS ROCHAS
4. ABRANGÊNCIA/EXTENSÃO DAS TEXTURAS E ESTRUTURAS METAMÓRFICAS
5. TEXTURAS E ESTRUTURAS METAMÓRFICAS E ORIENTAÇÃO PREFERENCIAL
6. TIPOS DE ESTRUTURAS
7. TIPOS DE TEXTURAS
8. ANÁLISE DE ESTRUTURAS/TEXTURAS METAMÓRFICAS


1. CONCEITOS

    A TEXTURA de uma rocha é determinada pelo tamanho, forma, disposição, contatos e arranjo ou organização de seus componentes minerais. A escala de estudo das texturas é, preferencialmente, microscópica. O estudo e interpretação da textura de uma rocha envolve níveis de abordagem distintos, mas inter-relacionados: elementos texturais intra-granulares e inter-granulares, ou seja, feições texturais internas de um grão ou cristal, como zonação, inclusões, exsoluções,.. e feições texturais entre grãos ou cristais, como tipos de contatos entre grãos e padrões, em tamanhos e formas, de organização dos compontentes minerais associados.
   
A ESTRUTURA de uma rocha é determinada pela organização de homogeneidades e de heterogeneidades texturais e/ou composicionais  definidas na escala de estudos.
    A escala de estudos das estruturas é, principalmente, macroscópica (desde escala de amostra de mão, também chamada escala mesoscópica, até a escala de afloramento).
    Estes conceitos têm limites variáveis e, como será visto, texturas e estruturas da rocha são feições interdependentes.
    Muitas regiões do globo terrestre são polimetamorfizadas, ou seja, sofreram mais de um metamorfismo. Cada processo metamórfico tende a modificar e até destruir ou apagar as texturas e estruturas de etapas anteriores. O estudo destes vestígios pode permitir se determinar, em certos casos com bastante segurança, qual foi a rocha original, quais foram os eventos que transformaram esta rocha e, com base em estudos sistematizados, quais foram as condições de pressão e temperatura, a entrada ou saída de H2O, CO2 e outros componentes químicos no sistema rocha/minerais ao longo desta sucessão de eventos.
    A base ou alicerce de tais pesquisas de evolução da rocha metamórfica é, sempre, um cuidadoso estudo petrográfico de texturas e estruturas com desenhos esquemáticos e anotações precisas das relações entre os diferentes minerais, o que terá como consequência imediata a decifração da evolução da Terra na região de estudo.
    Observação: tem sido muito utilizado o termo FÁBRICA para designar textura ou estrutura... Trata-se , porém, de um anglicismo mal traduzido (FABRIC =TECIDO; ESTRUTURA; ARRANJO..) que deve ser abandonado..(c/ agradecimentos ao Prof. Ariplínio A. Nilson).

2. CLASSIFICAÇÃO DE TEXTURAS E ESTRUTURAS COM RELAÇÃO AO EVENTO METAMÓRFICO

    Com relação a um evento metamórfico, as feições texturais e estruturais de uma rocha metamórfica podem ser classificadas em:

3. TEXTURAS E ESTRUTURAS METAMÓRFICAS E A REOLOGIA DAS ROCHAS

    Na dependência da intensidade e do tempo de atuação de cada um dos fatores de metamorfismo (P_litostática, P_dirigida, P_fluidos, T), da composição da rocha, de seus componentes minerais e dos fluidos metamórficos inter e intragranulares, a evolução das texturas e estruturas metamórficas ocorre segundo DUAS TENDÊNCIAS PRINCIPAIS (CATACLASE e BLASTESE) que se contrapõem:

    Desta forma, pode acontecer, por um lado, que uma rocha originalmente muito fina como um pelito, por exemplo, dê origem a um gnaisse ou a um granulito grosso com minerais que podem atingir a escala centimétrica com o metamorfismo regional, enquanto que, por outro lado, uma rocha muito grossa como um granito facoidal, com cristais centimétricos, dê origem a um cataclasito, bem fino, aplitóide, devido à cominuição (moagem) dos grãos sob forte pressão dirigida do metamorfismo dinâmico "a seco".
   
Na realidade, grãos minerais ao quebrarem sofrem recristalizações em grau variável para fases minerais estáveis nessas novas condições de P, T e stress, apresentando-se, então, como um agregado de sub-grãos do mineral original com contatos geralmente serrilhados entre si.
    A rocha, como um todo, reage às tensões aplicadas segundo duas tendências de deformação: de RÚPTIL a DÚCTIL com todas as gradações intermediárias. O comportamento rúptil é aquele em que a rocha apresenta-se rígida ou quebradiça e o comportamento dúctil é caracterizado por estiramentos e deformações plásticas (ductilidade=refere-se a propriedade do material ser estirado em fios sem romper). Este comportamento varia, também, entre os componentes minerais ou litológicos da mesma rocha que apresentam graus diferentes de ductilidade, influenciando o desenvolvimento de texturas diversas nas mesmas condições de P e T conforme os minerais que sofreram o esforço de deformação. Por exemplo, em um minério a base de pirita e galena, esta última pode se apresentar deformada em fitas ou foliada (mais dútil) ao lado da pirita em cristais com pouca deformação ou mostrando quebramentos por ter reologia distinta (mais rúptil) da galena nas mesmas condições termodinâmicas.

4. ABRANGÊNCIA/EXTENSÃO DAS TEXTURAS E ESTRUTURAS METAMÓRFICAS

    As estruturas metamórficas, quanto à EXTENSÃO atingida, são classificadas em PENETRATIVAS e NÃO-PENETRATIVAS:

    Este conceito, além de apresentar um certo grau de subjetividade, depende da escala de análise da estrutura. Por exemplo: uma clivagem com espaçamento milimétrico pode ser entendida como penetrativa na escala de afloramento mas não na da lâmina delgada.

5. TEXTURAS E ESTRUTURAS METAMÓRFICAS E ORIENTAÇÃO PREFERENCIAL

    As estruturas metamórficas, quanto à DISPOSIÇÃO GEOMÉTRICA, são classificadas em: 

    As estruturas metamórficas com orientação preferencial são de dois tipos principais:

    Foliações e lineações metamórficas podem coexistir em uma mesma amostra. 
    Tanto a foliação quanto a lineação metamórfica são consequência de pressões dirigidas que atuaram durante o metamorfismo, seja o metamorfismo ligado ao dobramento de cadeias de montanha (metamorfismo regional ou dínamo termal), seja durante o metamorfismo relacionado aos falhamentos e quebramento de rochas ao longo de zonas de falha (metamorfismo cataclástico ou dinâmico).
   
Assim, a maior parte das rochas transformadas por metamorfismo regional ou cataclástico, apresenta foliação e/ou lineação metamórfica. Esta orientação preferencial relaciona-se diretamente. com as deformações plásticas: a foliação tende a ser paralela ao plano axial (contém os eixos b e c de média e de mínima deformação do elipsóide de deformação), ou seja, tende a ser perpendicular ao eixo a de máxima deformação e a lineação tende a ser paralela às charneiras das dobras que se formaram sob o mesmo esforço metamórfico (paralelamente ao eixo "b" do elipsóide de deformação).
   
Entretanto, granulitos, eclogitos, metaultramáficas entre outras rochas de metamorfismo regional podem, excepcionalmente, se apresentar sem orientação preferencial.
   
Já as rochas de metamorfismo de contato (termal), como os hornfelses, são geralmente isótropas, raramente apresentando orientação preferencial. 
   
Deve ser observado que muitas rochas metamórficas granoblásticas, sem orientação preferencial visível macroscopicamente (grãos equidimensionais), podem revelar, à luz polarizada do microscópio entretanto, componentes minerais (quartzo, por exemplo) com orientação preferencial definida pelos seus eixos cristalográficos.

6. TIPOS DE ESTRUTURAS

Xistosidade - corresponde a estrutura penetrativa de minerais recristalizados segundo orientação preferencial em planos e/ou linhas (xistosidade planar e/ou linear). O têrmo xistosidade é mais usado para xistosidade planar.
Obs.: quando a xistosidade torna-se mal definida devido a inexistência ou pequena ocorrência de minerais filitosos ou prismáticos, sobressaindo a ocorrência de minerais que tendem a ser equidimensionais como feldspatos, quartzo, piroxênio, o têrmo foliação (uso genérico) é mais aplicável. 

Clivagem ardosiana: corresponde a uma "protoxistosidade" decorrente de fraca recristalização metamórfica acompanhada de rotação e quebramento de minerais pré-metamórficos segundo planos penetrativos; relaciona-se com metamorfismo de baixo grau de rochas pelíticas ou tufáceas principalmente

Clivagem de crenulação ("Strain Slip Cleavage"): estrutura metamórfica, planar, não penetrativa, que se desenvolve em rochas incompetentes ou pouco plásticas ao esforço deformatório na forma de planos de descontinuidade física (físseis) e/ou de recristalização preferencial de minerais metamórficos e que se espaçam entre si em até 2cm no máximo paralela ou subparalelamente aos planos axiais de dobras micro (Ver Foto) a mesoscópicas de crenulação.
O distanciamento dos planos de clivagem a mais de 2 cm leva a classificar-los de fraturas ou sistema de fraturas. Por outro lado, se os planos apresentam-se muito cerrados, em uma  estrutura penetrativa e com pouca recristalização, a clivagem de crenulação passa a ardosiana ou, se houver intensa recristalização, passa a ser uma xistosidade.

Bandamento ("layering"): é uma foliação em bandas, geralmente milimétricas a centimétricas,  de variação composicional e/ou granulométrica/textural da rocha. 
A sua origem pode ser:
1) reliquiar, ou seja, anterior ao metamorfismo como estratificação sedimentar ou estratificação ígnea e 
2) metamórfica por processo de segregação metamórfica. A segregação ou diferenciação metamórfica é um processo comum na formação de gnaisses dando origem ao conhecido bandamento gnáissico ("gnaissosidade"), mas ocorre também em diversas outras rochas metamórficas (xistos, eclogitos, anfibolitos, etc...). 

Lineação mineralógica - é a estrutura definida pela orientação preferencial de minerais metamórficos (exemplo: anfibólios) ou de concentrações minerais (exemplo: biotita...) segundo "linhas".

Componentes pré-metamórficos estirados: seixos, oólitos, xenólitos,... são , frequentemente, estirados segundo o eixo "b"das dobras originando-se uma lineação metamórfica de deformação

Barras ("rods"): são elementos lineares milimétricos a decimétricos de material diferenciado por segregação metamórfica (principalmente quartzo) em charneiras de dobras. São comuns em xistos onde se confundem, muitas vezes, com seixos de quartzo estirado. Indicam também o eixo "b" das dobras da deformação metamórfica sob a qual se formaram.

 Colunas ("mullions"): são elementos lineares decimétricos a métricos formados nas charneiras de dobras por corrugação dos estratos ou bandas e geralmente acompanhados por segregação metamórfica produzindo barras associadas. Dispõem-se, também,paralelamente ao "b" de deformação, representando fisicamente a direção de estiramento dos componentes mineralógicos ou litológicos

Intersecão de planos: a interseção de planos de clivagem entre si, de plano de clivagem com xistosidade, de xistosidades entre si ou de xistosidade com acamadamento etc.., produz líneação(ões) de interseção. Caso o plano mais antigo for deformado para uma superfície curva, a lineação decorrente da interseção será curva ao invés de veta. 

Eixos de crenulação: charneiras de microdobras milimétricas a centimétricas constituem lineações marcantes em rochas xistosas. (Ver foto: xistosidade crenulada em Xisto do Grupo Cachoeirinha, sul de Patos,PB)

Kinks ou Knicks: são crenulações que apresentam limbos em ângulos ou em joelho (sem arredondamento nas charneiras), simétricos ("chevron") ou assimétricos. Um pacote de xistos crenulados em "Kinks", além das lineações bem evidentes, podem apresentar planos de justaposição dos flancos formando bandas (kink bands) que são subparalelas aos planos axiais dos "Kinks". 

7. TIPOS DE TEXTURAS

7.1. Texturas reliquiares

    As texturas originais, pré-metamórficas, quando puderem ser identificadas nas rochas metamórficas, recebem o prefixo BLASTO, indicando estar relacionado com rocha metamórfica. Assim, por exemplo: 
-um metagabro com textura ofítica ainda reconhecível, mesmo que o plagioclásio e o piroxênio estejam metamorifcamente alterados, será dito ter textura BLASTO-OFÍTICA;
-um arenito metamorfizado no qual ainda se reconhecem os grãos detríticos, terá uma textura BLASTO-PSAMÍTICA
Ver fotomicrografias de blastomicrogabro com textura blasto-diabásica e de blasto-microdiorito com textura blasto-porfirítica.

7.2. Texturas tipomorfas

    As texturas relacionadas com  cristalização ou  recristalização metamórfica recebem a terminação BLÁSTICA para significar que se originaram com o metamorfismo estudado. As principais texturas associadas com a blastese metamórfica são as seguintes:

GRANOBLÁSTICA: como o nome indica, trata-se de uma textura na qual o arranjo dos minerais se dá na forma de grãos que tendem a ser equidimensionais. Rocha que frequentemente apresenta textura granoblástica é o gnaisse, cujos componentes principais são o quartzo e feldspatos que mostram esta tendência equidimensional.(Fotomicrografia)

LEPIDOBLÁSTICA: textura definida por minerais lamelares como as micas e as cloritas dispondo-se sub-paralelamente. Os micaxistos são rochas com textura geralmente lepidoblástica.(Ver foto1 e foto2)

NEMATOBLÁSTICA (nemato=vermes): os minerais que definem esta textura são os que apresentam hábito alongado, prismático ou acicular, como os anfibólios, a sillimanita, etc. dispondo-se sub-paralelamente. Anfibolitos e anfibólioxistos são rochas que apresentam frequentemente textura nematoblástica.

DIABLÁSTICA (di=duplicidade): textura sem orientação preferencial, diferente da granoblástica porque os minerais placosos ou aciculares (micas, anfibólios, epidotos   ou outros) que definem esta textura não formam grãos, não são equidimensionais

PORFIROBLÁSTICA: quando uma ou mais espécies cristalinas tendem a se desenvolver por crescimento metamórfico com dimensões significativamente maiores do que às da matriz, a textura recebe o nome de porfiroblástica em analogia com a matriz porfirítica das rochas ígneas.(foto 1, foto2).

7.3. Texturas cataclásticas

    As texturas com indicios de quebramentos e deformações dos grãos recebem a designação de CATACLÁSTICAS ou de MILONÍTICAS:

CATACLÁSTICA: o comportamento rúptil ou quebradiço dos minerais ao metamorfismo dinâmico é proeminente e, por isto, a rocha tende , muitas vezes, a mostrar pouca orientação. Rochas essencialmente quartzo-feldspáticas com poucos minerais micaceos ou filitosos comumente desenvolvem texturas cataclásticas.

 MILONÍTICA: textura decorrente de metamorfismo dinâmico ou de falha em rocha que apresenta, significativamente, minerais com comportamento dúctil ou plástico, orientando-se em planos ou linhas.

PORFIROCLÁSTICA: quando alguns minerais que resistem mais as deformações ficam em destaque entre a massa cataclástica mais finamente moida ou milonitica fina, a textura recebe o nome de porfiroclástica e esses minerais em destaque são designados de PORFIROCLASTOS.

MORTAR TEXTURE ou EM ARGAMASSA é uma textura cataclástica que se desenvolve, geralmente, em graus menores de cataclase: os grãos minerais, com comportamento rúptil, tensionados uns contra os outros, quebram e trituram-se preferencialmente em suas bordas resultando em subgrãos, muito pequenos, dinamicamente recristalizados, rodeando os grãos maiores remanescentes do quebramento (lembra uma mistura concretada de argamassa). A evolução desta textura pode vir a ser uma textura porfiroclástica a medida em que a matriz triturada aumenta percentualmente deixando em destaque grãos maiores, porfiroclastos.

    As texturas CATACLÁSTICAS e MILONÍTICAS (ver Fotomicrografia) são designadas, tambem, pelo grau de quebramento e/ou moagem de seus componentes, consistentemente com o nome que é atribuido a rocha, recebendo o prefixo PROTO e ULTRA, respectivamente, para percentagem menor (10-50%) e maior (>90%) de matriz quebrada/triturada da rocha. Assim, por exemplo, uma textura ultracataclástica mostra mais de 90% de seus componentes finamente quebrados e triturados.

8. ANÁLISE DE ESTRUTURAS/TEXTURAS METAMÓRFICAS

Introdução

    O estudo de uma lâmina delgada de rocha metamórfica  pode nos permitir estabelecer uma sucessão de eventos da história geológica local.
   
Entretanto, analisar e interpretar as texturas e estruturas das rochas metamórficas, sejam herdadas, tipomorfas ou pós-metamórficas, é tarefa que, geralmente, envolve mais do que o estudo de uma amostra e sua lâmina delgada ou seção polida e, mesmo, mais do que o estudo de um afloramento, ou seja, para termos segurança de nossos estudos, temos que ter uma boa base de cartografia geológica e correlação de estruturas e texturas observadas, analisadas e interpretadas na região.
   
A análise e interpretação de texturas e estruturas metamórficas, além desta abrangência geográfica, exige conhecimento e entendimento multidisciplinar porque não se estudam texturas e estruturas de rochas metamórficas sem se conhecer, entre outras: 

(1) quais texturas primordiais, ígneas ou sedimentares, que possam ter sido deixadas como vestígios ou que possam ter influenciado no desenvolvimento das texturas transformadas; 
(2) qual a mais provável composição inicial, química e mineralógica, que auxilie na interpretação do protólito
(3) qual a geologia estrutural da região, analisada desde o nível macro até micro, e quais os fatores tectônico/estruturais envolvidos; 
(4) quais os processos de reações químico/mineralógicos envolvidos, considerando-se fatores composicionais da rocha e dos fluidos durante os processos de transformação,..

    Assim, tal tipo de estudos é um quebra-cabeças onde as peças que vão se encaixando durante a pesquisa correspondem a eventos que devem ser correlacionados, na medida do possível, em níveis locais, regionais a continentais e em um tempo geocronológico, procurando-se determinar a rocha original e sua provável ambiência geotectônica e as etapas transformantes, cada uma dessas etapas caracterizada pelos fatores físicos (P, Pdirigida, Pfluidos, T), químicos (processos metassomáticos) e sua correlação com processos e ambiente geológico.

Metodologia

    Vários aspectos metodológicos são abordados no capítulo de PETROGRAFIA - DESCRIÇÃO DE AMOSTRAS.  Alguns aspectos e etapas referentes ao assunto serão apresentadas a seguir:

1- Estudo e análise preliminar da mineralogia e das estruturas

    Já em afloramento a amostra deve ser selecionada por mostrar mineralogia interessante e/ou estruturas típicas ou especiais devendo ser examinada com um entendimento "tridimensional", isto porque é comum ocorrer mais de uma estrutura metamórfica (planar e/ou linear), podendo gerar figuras tipicas de interferencia. 
   
A partir desta análise preliminar é que se tem condições de definir a (s) posição (ões) de corte para a confecção de lâminas delgadas. Assim, por exemplo a escolha de corte perpendicular a xistosidade e aos eixos de crenulações permite analisar o padrão das estruturas dobradas.

2- Definição das superfícies e lineações metamórficas

Macroscopicamente são definidas as estruturas de superficies metamórficas (S) e lineações (L) metamórficas. Desenhos esquemáticos são importantes para definir a sucessão

.......a continuar............. 
 


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BIBLIOGRAFIA 
(a ser complementada)

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