PROPOSTA de SÍTIO GEOLÓGICO DO BRASIL PARA REGISTRO NO
PATRIMÔNIO MUNDIAL(WORLD HERITAGE COMMITEE - UNESCO)

COMISSÃO BRASILEIRA DE SÍTIOS GEOLÓGICOS E PALEOBIOLÓGICOS
(DNPM-CPRM-SBG-ABC-SBP-IPHAN-IBAMA-SBE-ABEQUA)

PROPONENTE : Alvaro Penteado Crósta
Endereço: Instituto de Geociências – UNICAMP, Cx. Postal 6152, 13081-970, Campinas, SP
Fax: (19) 3289-1562
Telefone: (19) 3788-5120
email: alvaro@ige.unicamp.br
Data: 15/09/2003

1.Sugestão de AUTOR(ES) para eventual descrição detalhada do sítio:
Alvaro Penteado Crósta, César Kazuo Vieira, Asit Choudhuri

2.NOME do SÍTIO :  Domo de Vargeão

3. TIPO DE SÍTIO: ____[ ]Espeleológico _______[ ]Paleontológico ______[ ]Geomorfológico

[ ] Paleoambiental ____[ ]Ígneo ______________[ ]Sedimentar ________[ ]Metamórfico

[ ] Mineralógico ______[ ]Estratigráfico _______[ ]Tectono-estrutural ___[ ]Metalogenético

[ ] História da Geologia [X]Astroblema _________[ ]Outro:___________________________

[ ] Marinho-submarino______________ Obs.[ ]Inclui vestígios arqueológicos

4. LOCALIZAÇÃO
4.1. Município(s)/UF: Vargeão, SC
4.2. Lat/long(centro da área):  26º50’S - 52º 07´W
4.3. Nome do local: Vargeão

5. JUSTIFICATIVAS para a inclusão como PATRIMÔNIO MUNDIAL:
O estudo de crateras de impacto terrestres tornou-se importante a partir da descoberta de elementos siderófilos de origem cósmica de idade Cretácea, com possíveis implicações na biosfera da Terra. Na Terra a colisão de corpos celestes ao longo dos 4,5 bilhões de anos do planeta foi um fenômeno relativamente corriqueiro, principalmente nos primeiros 2 bilhões de anos, quando a atmosfera ainda estava rarefeita. Tais colisões são responsáveis pelas grandes extinções da vida ocorrida em vários períodos geológicos. No Brasil, apesar das vastas dimensões territoriais, foram identificadas até o presente apenas quatro crateras de impacto, denominadas o Domo de Araguainha (GO-MT), Serra da Cangalha (GO), Riachão (MA) e Domo de Vargeão (SC). Outras cinco estruturas circulares, para as quais suspeita-se da origem por impacto, necessitam de maiores estudos. São elas o Domo de Vargeão (SC) e as estruturas circulares de Colônia (SP), São Miguel do Tapuio (PI), Cerro Jarau (RS), Piratininga (SP) e Inajah (PA). A estrutura circular com 12 km de diâmetro que ocorre no município de Vargeão representa um dos remanescentes erosivos de cratera de impacto de corpo celeste, ou “astroblema”, conhecidos em nosso território. Os proponentes deste sítio vêm desenvolvendo estudos geológicos no Domo de Vargeão com o objetivo de identificar e caracterizar o astroblema de Vargeão. Os resultados já disponíveis acrescentam informações importantes acerca da natureza da estrutura e do fenômeno de impacto ali ocorrido. Caso a propositura aqui colocada seja aceita, o Domo de Vargeão viria se juntar ao de Araguainha, o maior astroblema da América do Sul, que compõem o conjunto de sítios geológicos e paleontológicos brasileiros já descrito.

6.BREVE DESCRIÇÃO DO SÍTIO:

O Domo de Vargeão é uma estrutura quase perfeitamente circular, com 12 km de diâmetro, formada sobre rochas ígneas da Formação Serra Geral da Bacia do Paraná. A estrutura é caracterizada geomorfologicamente por uma depressão com até 125 metros de desnível entre sua borda e seu interior, apresentando internamente uma série de anéis concêntricos e estruturas lineares radiais, típicas do estilo de falhamento associado ao processo de formação de crateras de impacto. Em seu centro, ocorre um núcleo soerguido, formado por brechas de impacto e por arenitos das formações Botucatu/Pirambóia, que se encontram em uma posição estratigráfica anômala, cerca de 700 metros acima de sua profundidade normal de ocorrência nessa porção da Bacia.

Dentre os principais litotipos encontrados no interior do domo destacam-se os basaltos da Formação Serra Geral, brechas de basaltos e arenitos (deformados e brechados) das formações Botucatu e Pirambóia. As brechas de basalto são de dois tipos, sendo a primeira tipicamente vulcânica, característica de interderrames, cuja espessura não ultrapassa 2-3 m, composta por fragmentos de basalto vesículo-amigdaloidal. O segundo tipo de brecha mostra espessuras bem maiores (até 20 m), sendo caracterizada por fragmentos de basalto maciço e matriz composta por material vermelho escuro. Os basaltos aflorantes no interior da estrutura caracterizam-se por serem maciços e muitas vezes cortados por veios similares à matriz vermelho escura do segundo tipo de brecha. Os arenitos, pobremente selecionados e com alto percentual de silte e argila, afloram na forma de blocos que foram nitidamente basculados, com contatos bruscos, típicos de falhas. O segundo tipo de brecha é interpretada como brecha de impacto.

Outras evidências da origem por impacto encontradas foram estruturas do tipo shatter cones, tanto em basaltos como em arenitos, e deformação planar (PDFs) em grãos de quartzo dos arenitos, além de intensa deformação de todas as rochas que ocorrem no interior do Domo.

Tais evidências permitem concluir que o Domo de Vargeão se formou pelo impacto de um corpo celeste (provavelmente um asteróide) contra a superfície terrestre há pelo menos 110 milhões de anos, idade da Formação Serra Geral, cujas rochas foram afetadas pelo fenômeno.

7. SITUAÇÃO ATUAL DE CONSERVAÇÃO E ÓRGÃO RESPONSÁVEL P/PROTEÇÃO:

A região do Domo de Vargeão é alvo de intensa ocupação por atividades agro-pecuárias há mais de um século, apresentando contudo um panorama estável do ponto de vista de conservação. Um fator positivo encontrado é o alto nível de conscientização da população local acerca da provável origem da estrutura, provavelmente decorrente da divulgação da história geológica da região por parte da Prefeitura Municipal, que adotou para a cidade o lema “A Cidade do Meteoro”. A sede do município de Vargeão encontra-se localizada no interior da cratera (em sua borda sul) e com certeza qualquer proposta que vise a divulgação e a preservação deste sítio irá encontrar suporte por parte do poder municipal local.