PROPOSTA de SÍTIO GEOLÓGICO DO BRASIL PARA REGISTRO NO
PATRIMÔNIO MUNDIAL(WORLD HERITAGE COMMITEE - UNESCO)

COMISSÃO BRASILEIRA DE SÍTIOS GEOLÓGICOS E PALEOBIOLÓGICOS
(DNPM-CPRM-SBG-ABC-SBP-IPHAN-IBAMA-SBE-ABEQUA)


PROPONENTE
Nome: Claudio Riccomini
Endereço: Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, Rua do Lago 562, CEP 05508-080, São Paulo, SP
Fax: 011-30914207
Telefone: 011-3091-4126
email: riccomin@usp.br
Data: 28/10/2003

1.Sugestão de AUTOR(ES) para eventual descrição detalhada do sítio: Claudio Riccomini e outros colaboradores a serem convidados

 


2.NOME do SÍTIO (use nome consagrado. Se este não existir, proponha um nome conciso que indique o tipo de sítio e/ ou o local):

Cratera de Colônia, SP

 


3. TIPO DE SÍTIO: ____[ ]Espeleológico _______[ ]Paleontológico ______[X]Geomorfológico

[ ] Paleoambiental ____[ ]Ígneo ______________[ ]Sedimentar ________[ ]Metamórfico

[ ] Mineralógico ______[ ]Estratigráfico _______[ ]Tectono-estrutural ___[ ]Metalogenético

[ ] História da Geologia [X]Astroblema _________[ ]Outro:___________________________

[ ] Marinho-submarino______________ Obs.[ ]Inclui vestígios arqueológicos

 


4. LOCALIZAÇÃO
4.1. Município(s)/UF: São Paulo/SP
4.2. Coordenadas geográficas: Lat/Long(centro da área): 23o52'S; 46o42'W
4.3. Nome do local: Colônia

 


5. JUSTIFICATIVAS para a inclusão como PATRIMÔNIO MUNDIAL: Desde os primeiros estudos, há cerca de trinta anos, a Cratera de Colônia vem sendo considerada como o testemunho do impacto de um corpo celeste (meteorito ou cometa), o que a caracterizaria como um astroblema. Além da questão da origem, outro aspecto de interesse é o seu preenchimento sedimentar, que atinge mais de 400 metros de espessura máxima, segundo os dados obtidos em levantamentos geofísicos. Estes sedimentos guardam o registro das transformações ambientais ocorridas desde a formação da cratera, constituindo-se, portanto, num local excepcionalmente favorável para o desenvolvimento de estudos paleoclimáticos, sobretudo para o Quaternário.

São conhecidas no mundo, atualmente, cerca de 160 estruturas desta natureza, a maior parte delas situadas no hemisfério, em condições climáticas temperadas a frias, sendo mais escassas no hemisfério sul, em regiões intertropicais. Ademais, crateras preenchidas, em clima úmido, são pouco numerosas. Neste particular, a Cratera de Colônia possui um registro sedimentar significativo, uma vez que a drenagem no seu interior foi até recentemente endorreica, ocorrendo atualmente uma única saída, na parte leste, rumo ao Reservatório Billings.

A comprovação definitiva de que a geração da estrutura de Colônia estaria relacionada ao impacto de um corpo celeste depende do exame de testemunhos de seu embasamento, visando a verificação de possíveis indícios de metamorfismo de impacto, sendo necessário, para tanto, a execução de uma sondagem profunda.

A cratera de Colônia constitui-se, portanto, num sítio extremamente favorável às pesquisas científicas, verdadeiro testemunho das transformações ambientais ocorridas na região da Grande São Paulo durante o Terciário e o Quaternário. A continuidade das investigações depende da manutenção das características originais da região.


 

6.BREVE DESCRIÇÃO DO SÍTIO: A Cratera de Colônia está localizada a cerca de 35 km ao sul do centro da Cidade de São Paulo, no distrito de Capela do Socorro. Ela apresenta formato circular, bem destacado em fotografias aéreas. Com 3.640 metros de diâmetro, a estrutura é circundada por um anel externo de relevo colinoso que se eleva até 125 m acima da planície central pantanosa. A hipótese de origem por impacto de corpo celeste para a estrutura de Colônia foi aventada desde os estudos geofísicos pioneiros, na década de 1960. Trabalhos posteriores reafirmaram esta idéia. Estima-se que a cratera teria originalmente 900 m de profundidade e que tenha sido preenchida por pelo menos 440 m de sedimentos; a idade máxima para o impacto estaria compreendida no intervalo entre 36,4 Ma (limite entre o Eoceno e o Oligoceno) e 5,2 Ma (limite entre o Mioceno e o Plioceno).

Até o presente momento não foram encontradas evidências diretas (especialmente feições de metamorfismo de impacto) de que a estrutura constitua verdadeiramente um astroblema. Entretanto, hipóteses alternativas, tais como (a) feição cárstica (dolina), (b) padrão de interferência de estruturas, (c)  intrusão de corpo magmático, (d) estrutura de criptoexplosão associada a kimberlito e (e) feição de escorregamento do terreno de grande porte, podem ser descartadas, respectivamente, (a) pelo fato de não terem sido cartografadas rochas carbonáticas na região, (b) persistência da atitude principal das estruturas do embasamento, (c e d) falta de indicações de estruturas e/ou corpos intrusivos menores que poderiam estar associados com intrusões kimberlíticas e pela dimensão não usual para estas e (e) devido à geometria circular, atípica para uma feição de escorregamento.

Desde 1987, em cooperação com pesquisadores franceses  (acordo entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, do Brasil, e o Institut Français de Recherch pour le Dévelopement  - IRD, da França), pesquisadores do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo vêm conduzindo numerosas investigações na área. Um programa de sondagens rasas com vibrotestumunhador permitiu o exame do conteúdo polínico dos sedimentos, bem como a análise isotópica da matéria orgânica e a realização de datações pelo método do radiocarbono (Carbono 14).

O estudo de um testemunho que atingiu profundidade de 8,78 m, revelou a presença de sedimentos argilosos ricos em matéria orgânica (turfa), de cor preta, localmente preta acinzentada ou preta esverdeada. Alguns grãos e grânulos de quartzo apareceu abaixo da profundidade de  2,27 m, ocorrendo um intervalo com predomínio de areia fina micácea de coloração preta acinzentada entre 2,53 e 2,65 m. Fragmentos de caules, restos de folhas e espinhos, além de alguns frutos, ocorrem ao longo do testemunho, predominando nos 2 m inferiores. As determinações 14C indicam idades entre 28.050 e 18.180 anos A.P. para os sedimentos situados acima de 2,73 m, não havendo registro de sedimentos holocênicos. A taxa de sedimentação entre 0,54 e 2,25 m é de aproximadamente 0,02 cm/ano.

Estudos preliminares do material polínico indicaram a presença de vegetação de floresta entre 7,50 e 6 m, correspondente de clima ameno, seguido de condições climáticas progressivamente mais frias, marcadas pelo decréscimo de elementos de floresta (llex, inicialmente, e posteriormente todos os outros elementos) e gradual incremento da vegetação campestre (Granineae e compositae) até o intervalo arenoso (2,73 m, 28.050 A.P.). Este intervalo seria caracterizado pela influência de vegetação de pântano e turfeira, o que levaria a crer que a redução da floresta esteve antes relacionada a um decréscimo da temperatura do que a incremento na aridez climática. Após 28.050 A.P. (2,73 m) ocorre drástica redução dos elementos de floresta, pântano e turfeira, coincidindo com grande incremento de elementos campestres, sugerindo mudança climática significativa para condições mais frias e semi-áridas, que perdurariam até 18.180 A.P. (0,50 m).

Linhas sísmicas com fonte explosiva, conduzidas por pesquisadores do Instituto de Astronômia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo, na borda sul da cratera, permitiram estimar entre 380 e 430 m a profundidade da interface entre os sedimentos e o embasamento, além de constatar a existência de duas camadas sedimentares sobrejacentes ao embasamento com velocidades distintas, bem como a presença de falhas normais próximas à borda sul da cratera. Com base em correlações estratigráficas desta camada imediatamente sobreposta ao embasamento, com sedimentos expostos na borda da estrutura (Formação Resende) consideraram que a idade máxima para a formação da cratera é oligocênica.

 


7. SITUAÇÃO ATUAL DE CONSERVAÇÃO E ÓRGÃO RESPONSÁVEL P/PROTEÇÃO: Até o final da década de 1980 a maior parte da cobertura vegetal original da região da cratera de Colônia estava preservada. Os proprietários de pequenos sítios localizados no interior da estrutura dedicavam-se unicamente ao cultivo de hortaliças. Por estar situada nos limites da zona urbana do Município de São Paulo, a encosta norte da parte interna da estrutura foi ocupada desordenadamente a partir de 1989-90. As moradias e as ruas de terra foram avançando rumo ao interior da cratera; a expansão foi contida, até o momento, pela natureza turfosa do substrato.

Em 30 de junho de 2003, após oito anos de estudos, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) aprovou o tombamento da área da cratera. O texto final do projeto, aprovado pelo conselho, já foi encaminhado para a Secretaria Estadual de Cultura para homologação


De: schobben@df.cprm.gov.br [mailto:schobben@df.cprm.gov.br]
Enviada em: quarta-feira, 29 de outubro de 2003 12:28
Assunto: Re: proposta de sítio geológico

Prezados colegas,

Concordo com a proposta do Prof. Riccomini de cadastrar a Cratera de Colônia como novo sítio geológico da SIGEP, considerando a quantidade de estudos já existentes sobre a mesma, o que demonstra o seu interesse científico, quer sendo um possivel astroblema ou não.
SDS
Carlos Schobbenhaus
schobben@df.cprm.gov.br
Serviço Geológico do Brasil - CPRM
Chefe do Departamento de Geologia - DEGEO


De: Manfredo Winge [mailto:mwinge@terra.com.br]
Enviada em: quarta-feira, 29 de outubro de 2003 13:01
Assunto: RES: proposta de sítio geológico

Aos colegas da SIGEP,
tambem estou de acordo com a aprovação da proposta Cratera de Colônia como sítio geológico e com o prof Riccomini como autor principal; ficamos na expectativa de que talvez possa ser demonstrada, com o trabalho, a verdadeira origem da feição, se de impacto ou outra.

Manfredo Winge


De: Celia Regina de Gouveia Souza [mailto:celia@igeologico.sp.gov.br]
Enviada em: quarta-feira, 29 de outubro de 2003 14:35
Assunto: RE: proposta de sítio geológico

Caros Colegas da SIGEP,

Concordo com a indicação do sítio a Cratera de Colônia.

Um abraço a todos,
Celia

Dra. Celia Regina de Gouveia Souza

Pesquisadora Científica V - Instituto Geológico-SMA - São Paulo